Chiarini vira tese de mestrado
Possível que, se vivo, diante de espectadores, João Chiarini se risse da hipótese de ter sua vida transformada em tese acadêmica, tema capaz de garantir o título de mestre a alguém. Mas, na solidão de alguns momentos, sua vaidade nunca negada certamente se veria recompensada pelo fato.
Pois apenas seis anos após sua morte, isto realmente aconteceu. Elevando-o a uma categoria de quase mito, foi apresentada no início de agosto, no programa de mestrado da UNIMEP, tese intitulada “Prata da casa – o papel do intelectual João Chiarini – Uma contribuição à História de Piracicaba”, pela Profa. Maria Inês Alves Borges de Andrade.
O trabalho, que reúne inclusive um roteiro biográfico e cronológico da vida de Chiarini, busca situá-lo como intelectual de esquerda que se dedicou à cultura e às artes, especialmente na área do folclore. Seus trabalhos, a nível de estudo do folclore, são tratados como tendo sido compostos por “análises na sua maior parte atualíssimas, que ocuparam a quase totalidade de suas iniciativas culturais, quer como escritor, promotor de eventos ou como incentivador de talentos”. Em seus anexos, a tese reproduz inclusive, conferência proferida por Chiarini em 1945, em São Paulo, sobre “A lição da inconfidência” e o edital por ele publicado quando da criação do Centro do Folclore em Piracicaba.
Mas, trabalhando dentro de parâmetros acadêmicos, a tese se desenvolve muito mais dentro de uma proposta de relacionar Chiarini aos movimentos políticos de seu tempo, seus compromissos partidários e sua luta artística dentro de uma época de profundas alterações culturais. Neste aspecto, valoriza-se muito mais o compromisso político de Chiarini, que teria uma origem ideológica em sua opção original pelo PCB, na opinião da autora, como motivação para se explicar sua busca de valorização das manifestações populares e do surgimento de um espírito nacionalista.
O maior interesse de análise se situa em sua militância nas décadas de 40 e 50, quando desenvolve sobremaneira a pesquisa folclórica e se compromete mais claramente com Piracicaba.
O parágrafo, entretanto, que certamente mais se aproximará do João Chiarini que a cidade conheceu, que cativou amigos e gerou polêmicas, que permaneceu na lembrança de muitos, vem apenas em um dos apêndices. Nele, longe do academicismo natural que caracteriza a maioria das teses, a autora simplesmente lembra que “Chiarini organizou movimentos, enviou petições, escreveu nos jornais, tudo para ver as jovens gerações não perderem de vista sua história. Escrevia sobre os personagens que dão nome às ruas, monumentos, hermas e praças, e lamentava o descuido das autoridades em conservar estas memórias. Lutou também pela preservação da memória arquitetônica sugerindo, em primeira mão, o aproveitamento do espaço do Engenho Central”.