Julião, Gatão, De Sordi e Coutinho: 4 craques com a mesma origem

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Antônio Julião, Gatão, De Sordi e Coutinho. Além do fato de todos terem sido craques piracicabanos do futebol brasileiro, o que mais teriam em comum?

Antônio Julião era conhecido por aqui como “Gordo”, embora como atleta talvez não tivesse um quilo a mais do que o peso normal para a sua estatura. Talvez tivesse sido um bebê rechonchudo, permanecendo o apelido enquanto ficou em Piracicaba. Jogava pelo Clube Atlético Piracicabano, quando foi fazer um teste no Corinthians Paulista, aprovou e ficou. Mais do que ficou. Tornou-se titular absoluto do esquadrão do Parque São Jorge, ganhou a condição de astro de primeira grandeza e foi um dos responsáveis peIa conquista do título de campeão do IV Centenário de São Paulo, em 1954, que acabou sendo o último título corintiano até 1977. Antônio Julião está até hoje no Corinthians, como diretor técnico das divisões menores.

Gatão, nascido Vicente Natal Filho, este, sim, contrariava as leis da física, mas, confirmava apelido, ganho no futebol. De corpo pesado, pernas grossas, Gatão possuía uma tremenda impulsão, o que lhe tornou possível firmar-se como um grande cabeceador. Jogador de meio campo que se dava ao luxo ser também o artilheiro do XV graças aos muitos gols de cabeça que se somavam aos que fazia com potentes tiros de pé esquerdo. Gatão levou o XV a ser o primeiro campeão da Lei do Acesso, em 1947 e 48 (só valeu segundo ano). Anos mais foi chamado pelo Corinthians Paulista, para assumir as funções de artilheiro. Gatão não conseguiu sagrar-se campeão paulista, mas, deu ao Corinthians algumas vitórias sensacionais, como na partida final de um torneio internacional realizado em São Paulo, em que fez três gols de cabeça.

De Sordi, ou Newton de Sordi. Começou como atacante, era também um cabeceador. No XV de Novembro, acabou sendo deslocado para a zaga lateral direita. Em pouco tempo, despertou a atenção dos grandes clubes e um dia, numa transação milionária para a época, teve o seu passe adquirido pelo São Paulo F.C. Sagrou-se campeão paulista e foi titular da Seleção Brasileira de 1958, que deu ao Brasil o primeiro título Mundial. De Sordi, depois de abandonar o futebol como praticante, fazendeiro no Paraná, tornou-se o patrono do clube Bandeirantes.

Coutinho é o Antônio Wilson Honório. Aos 13 anos de idade já pintava como futuro grande craque, nos infantis do Palmeiras da Cidade Alta. Aos 15 anos, foi recusado pelo XV de Novembro, depois de ligeiros testes. Foi para o Santos F.C. onde se tornou, em POUCO tempo, o companheiro ideal para a genialidade de Pelé, com quem compôs a mais famosa dupla de atacantes do futebol de todos os tempos.

Não teve vez na Seleção Brasileira, porque a burrice dos dirigentes (somado ao regionalismo dos cariocas) não podia admitir outro paulista ao lado de Pelé. Mas, Coutinho sagrou-se bicampeão mundial interclubes, pelo Santos F.C.

VOLTANDO AO COMEÇO

Todos piracicabanos, todos craques excepcionais. O que mais têm eles em comum? Todos eles deram os seus primeiros chutes na bola no mesmo campo. O antigo campo do “Palmeirinhas” da Cidade Alta, onde hoje existe o conjunto social esportivo da mesma Sociedade Recreativa Palmeiras.

Um campinho desnivelado,  sem acomodações para público. Ali, a forja de craques foi prodigiosa, inigualável. Dezenas de outros craques também começaram o seu futebol naquele lugar. Citamos apenas os fora-de-série.

Quando os brasileiros aprenderem a reverenciar e a ter orgulho dos seus ídolos mesmo depois que estejam os seus feitos distanciando-se nas páginas do tempo, é possível que algum turista possa ver uma placa, lá no conjunto social do antigo “Palmeirinhas”, com dizeres mais ou menos assim: “Deste Clube saíram craques como Julião, Gatão, De Sordi e Coutinho, para a grandeza do futebol brasileiro.”

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