Ainda mais bela, Lou voltou. E quer sossego.
Do alto de sua fase madura – é claro que a idade exata ela não conta -, Lou Borelli gosta de saber que nos anos 80 era uma referência de beleza para todas as meninas de Piracicaba. Ela só não aprecia o tempo verbal. “Era? Eu quero continuar sendo e durante muito tempo”, diz a moça, consciente de que foi um ícone e sem fazer pose de falsa modesta. Pudera, na época, Lou, mais que uma linda mulher, era um símbolo: a garota interiorana que vence nos grandes centros. Ganhou admiradores, alguns críticos, mas achou que estava na hora de voltar às raízes.
Há algum tempo, se estabeleceu novamente em Piracicaba, a família sendo o centro de tudo. Está num apartamento do Centro ao lado do filho Christian, de sete anos, e do simpático cachorro Bola, que se enturma com as visitas logo de cara, assim como a dona, aliás. Depois de um tempão aparecendo em desfiles, capas de revistas, e circulando por São Paulo e Nova York, hoje Lou é organizadora de eventos e consultora de estilo, aquele tipo de profissional que orienta quem pretende um consumo de classe.
“Hoje Piracicaba está mudada, as pessoas estão com a cabeça mais aberta e muita coisa pode acontecer”, diz. Palavra de quem entende de estilo.
A PROVÍNCIA – Por que você resolveu voltar para Piracicaba?
Lou Borelli – Acho que foi um lance de retorno mesmo, de volta à família.
Quanto tempo você ficou fora da cidade?
Saí pela primeira vez em 1980, fui primeiro para São Paulo, depois passei uma temporada em Nova York e voltei para São Paulo.
E, nesse tempo todo, nunca pensou em regressar?
Eu cheguei a voltar nos anos 90, fiquei por aqui de 1991 a 1994, mas acho que ainda não era o tempo certo de voltar. Mas é claro que nesse tempo todo, sempre fiquei indo e vindo, pois minha mãe sempre morou aqui.
O que tem Piracicaba de especial para você?
No fundo todo mundo gosta de um porto seguro e isso que Piracicaba é para mim. Nesse mundo moderno, com globalização, celular, a gente precisa de um canto de paz. Dizem que o mundo atual está cada vez mais inóspito para os artistas e eu concordo com isso. Então senti que aqui posso ter um pouco mais de sossego.
Como foi ser considerada um ícone de beleza nos anos 80?
Eu fui conhecida internacionalmente e tinha uma imagem elitizada, não cheguei a ter uma imagem popular.
Quem te descobriu?
Foi o Trípoli (famoso fotógrafo de moda) que me viu dançando na boate Hippopotamus, em São Paulo, e me disse que eu era a cara da Jerry Hall, a modelo americana que depois se casou com o Mick Jagger. E eu nem sabia quem era Jerry Hall. Ele me convidou para fotografar e eu logo estourei, comecei a fazer uma capa de revista atrás da outra. Mas tudo aconteceu muito rápido, foi algo que não fui atrás, não fui buscar. (NR: O jornalista Rogério Vianna faz questão de se assumir como o primeiro, em Piracicaba, a descobrir a fotogenia de Lou Borelli, sugerindo fosse entrevistada por O DIÁRIO)
Ser tão famosa, naquela época, não lhe trouxe problemas numa cidade do interior?
Na época não. Mas eu senti dificuldades quando tentei voltar a primeira vez para Piracicaba nos anos 90. Parecia que ainda existia aquela coisa de que uma mulher bonita não pode ter talento, é só imagem.
Hoje isso mudou?
Sinto que sim. Hoje a cidade está mudada. Senti que está muito mais aberta, ainda é uma cidade do interior, mas tem pessoas mais atualizadas. É bom essa mistura, pois aqui eu posso ter uma qualidade de vida melhor. E para uma criança, e meu filho Christian tem seis anos, viver no interior é muito melhor.
Profissionalmente o que você está fazendo?
Eu me considero uma artista que faz um monte de coisas, usando tudo o que aprendi nos meus tempos de modelo. Desenho roupas, jóias, faço eventos, como casamentos e reuniões, e faço consultoria de imagem. Eu dou indicações para meus clientes, do visual até a casa deles, para que eles consumam o produto certo. É o que se chama atualmente de acelerador de carreiras.
E em Piracicaba há mercado para isso?
Não tenho dúvida. O lado bom da globalização é que as informações ficam mais acessíveis. E tenho sentido que aqui há muitas pessoas interessadas, talvez elas ainda não saibam como captar as novas tendências.
Do que você tem saudade de Piracicaba?
Do rio, da natureza. A rua do Porto está bem conservada, mas podia ser ainda mais explorada.
E o que espera da cidade em termos de carreira?
Eu quero mexer com a cabeça das mulheres da cidade, quero transmitir para elas o que aprendi. Sinto que estou voltando num momento especial, em que a cidade está cheia de energia.
Você foi uma modelo de sucesso nos anos 80. Se fosse hoje, não acha que estaria muito mais rica?
Sem dúvida. Na época os fotógrafos e estilistas enchiam muito o ego da gente mas não pagavam tanto quanto hoje. Se bem que eu não tenho do que reclamar, por causa da minha ligação com o Trípoli meu trabalho era bem remunerado. Mas acho que antes ser modelo era mais arte, hoje é mais comércio.
E o maior símbolo disso é uma brasileira, a Gisele Bündchen, não é?
Olha, mas eu não tenho nada de ruim para falar da Gisele. Acho que ela é muito inteligente, uma camaleoa, que vai se adaptando às mudanças. Nisso ela é a cara dos anos 2000.
Que outras modelos você admira?
Prefiro falar das estrangeiras. Gosto da Kate Moss e da Naomi Campbell, que passou por tudo, venceu as drogas. Gosto de gente que tem história.
E o que acha da moda brasileira?
Existe isso? Estilista brasileiro só copia!
Mas a São Paulo Fashion Week não tem projetado mais a nossa moda?
Por favor, a Fashion Week é um horror! Para mim não passa de um comercinho de 1 real e 99!
E o que pensa dessa obsessão das meninas de hoje em ser modelo?
Eu não usaria a palavra obsessão, que é muito forte, acho que aí você está sendo preconceituoso. É tão gostoso mexer com beleza, qual é o problema em alguém querer se sentir bonita?
E por falar nisso, você se arrepende de alguma coisa em sua carreira?
De nada! Vivi intensamente, mas hoje quero ficar mais quietinha, quero me dedicar mais a ter uma família legal.
Você já foi convidada para posar nua?
Nossa, perdi a conta do número de vezes!
E por que nunca aceitou?
Não sei, acho que não me sentiria bem ficando tão exposta, mas não tenho nada contra.
É mais difícil para uma mulher bonita ser feliz no amor?
Eu casei uma vez, tive um filho maravilhoso, hoje estou namorando e vai indo tudo bem. Acho que se a mulher procurar ser independente e ao mesmo tempo não se esquecer de ser feminina, tudo fica mais fácil.
*Ronaldo Victoria é redator do Jornal de Piracicaba. Esta entrevista é de sua autoria quando editor de A Provincia online. Está sendo republicada para constar dos arquivos de A Província.com.