In God we trust

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em-deus-confiamos“Em Deus confiamos”. É o lema nacional dos EUA. Vem impresso no Dólar. Como aqui no dizer de alguém “nada se cria, tudo se copia” no Real vem escrito “Deus seja louvado”. De qualquer modo, tanto lá como cá, botar o nome de Deus no dinheiro não passa de ideia de jerico, além de ofendê-Lo, já que o dinheiro se concentra em poucas mãos – causa da miséria e da violência que matam milhares por dia.

Voltando aos EUA, quem não ficou chocado com o atentado praticado por um jovem americano, que matou 50 pessoas, com ele, e feriu 53 na boate Pulse em Orlando no dia 12.06 passado? Foi o maior atentado a tiros da história do país. Em 2015, mais de 400 pessoas morreram em chacinas desse tipo nos EUA. O presidente Obama voltou a criticar o fácil acesso a armas. Moleque lá ganha rifle como presente de aniversário. Pais ensinam filhos a atirar. Armas leves ou pesadas se vendem em lojas.  A indústria armamentista americana manda mais que governos.

O culto às armas, penso, vem dos tempos da colonização e acabou sendo direito garantido na constituição norteamericana. Filmes de faroeste (e os atuais) mostram que matar gente ou animal era (é) a mesma coisa. Nações indígenas inteiras foram dizimadas a tiros, suas terras roubadas e sobreviventes confinados. “Quando o homem branco vem ao meu território, deixa uma trilha de sangue atrás dele…”. (Nuvem Vermelha, chefe sioux oglala – do livro “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio. Uma história índia do Oeste americano”. Dee Brown – Ed. Melhoramentos, 1987).

Não seria contrassenso uma nação confiar em Deus e ao mesmo tempo cultuar armas? Afinal, confia em armas ou em Deus, cujo mandamento “Não matarás” é cabal? Até onde sei, armas de fogo foram inventadas para matar – e seu inventor deve estar no fundo dos infernos, para onde irão também os que as usam, fabricam e comercializam. Aí pergunto se o tão falado respeito que o norteamericano tem pelo espaço do outro se baseia na inviolabilidade da dignidade humana e no Direito ou no medo da bala? A nação que se intitula a maior democracia do mundo diz que confia em Deus, mas dentre os países do globo é o que tem maior número de presos. (Folha 23.08.14). Dá para entender?

Aqui no Brasil, meia dúzia de toupeiras – a bancada da bala no Congresso – quer também liberar armas, mesmo vendo o estrago que isso causa. O Rio de Janeiro, por exemplo, está pior que o Iraque com UPPs e tudo. Em vez de ocupar morros com saúde, educação, lazer, trabalho, cultura, esporte, religião de verdade, saneamento básico, etc. ocuparam com armas e polícia. Resultados mostram que só idiotas acreditam em armas. “No mundo há duas forças, a da espada e do espírito; a força do espírito acabará vencendo a força da espada”. (Napoleão Bonaparte).

Se os EUA confiassem em Deus mesmo, seus presidentes teriam conversado – como fez agora Obama, porém tarde demais – antes de detonar Hiroshima, devastar o Vietnã e invadir o Iraque, como fizeram os demônios Bush pai e Bush filho. De lá saíram depois de 3.209 dias, pelo menos 103 mil civis mortos, 4.482 baixas militares americanas e mais de um trilhão de dólares jogados fora. Depois daquilo nunca mais houve paz. O Terrorismo pós-Bin Laden é mais mortífero. Mortes em atentados terroristas subiram 42% de 2011 a 1013. Em 2013 foram 17.800 mortes. (Folha 01.05.15). “EUA devem pedido de desculpas ao mundo”. (Seymour Herst, jornalista).

Tragicômico é ver brasileiros investindo adoidado em imóveis em Orlando atrás de segurança para a família e fuga da crise. Brasileiras ricas vão a Miami para dar à luz filhos com cidadania americana. Se a coisa apertar por aqui já têm para onde correr.

Acho que estão certos. O Brasil precisa de filhos que acreditem e lutem por ele; que pensam no bem estar de todos e não somente no seu. Boa viagem, bundas-moles.

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