Se a canoa não virar…

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

carnaval 2018

Foto: Reprodução Google

Sábado de Carnaval. A cronista sai da linha poética e intimista para esbravejar um pouco e rodar a baiana. A cronista também é gente. A cronista também tem coração. A cronista também tem espírito crítico. A cronista também é filha de Deus.

Sábado de Carnaval.  Festa pagã. Festa da carne. Não importa, é festa, sobretudo aqui neste país tropical, que bate tambor o ano todo, requebra e dança. País do Carnaval, do samba e do futebol. Algumas coisas do gênero vão anestesiando o povo, enquanto lá no Congresso vemos fatos estarrecedores.

O que sobrou do nosso Brasil varonil? Sim, temos de resgatar riquezas como o Hino Nacional, hastear a bandeira uma vez por semana no pátio das escolas e cantar com os alunos os versos tão belos que reverenciam nossa Pátria, seus símbolos e suas honras. Verás que um filho teu não foge à luta. Terra adorada! Brava gente brasileira! Salve lindo pendão da esperança!

Ah, se a canoa não virar, todos chegamos lá. Chegaremos? Que futuro você quer para o Brasil? Uma mulher do Paraná fez o vídeo diante de uma praia e disse que ela quer tirar o sal do mar. O mar está muito salgado, senhores. Brasileiro é assim, bem humorado, faz piada de tudo. Ainda mais com a proposta da Rede Globo e o envio do vídeo feito pelo cidadão.

Que futuro você quer para o Brasil? Como aposentada e pensionista do INSS, rezo a Deus todos os dias para que não falte aos idosos o sagrado benefício. É isso que desejo, honestamente, para o futuro: sobreviver dignamente com os proventos previdenciários. Que terrorismo se faz com esse assunto. Daqui a dois anos não haverá como pagar os aposentados, diz o Presidente da República, repetem os líderes do governo que aprovam a reforma da Previdência.

Depois, como consolo, lá do Planalto avisam que não mexerão nos “direitos adquiridos”, podemos ficar sossegados. A esta altura, já perdemos o sono, o apetite, a paz. Trabalhamos décadas, ajudamos a construir um pouco desta nação, contribuímos para com a Previdência, e corremos o risco de nada receber de volta, justamente numa fase da vida em que ficamos mais vulneráveis às doenças, gastando com remédios de monte. É justo?

Esta canoa brasileira nos levará ao alto mar da bonança, da prosperidade e da justiça? Daqui a alguns anos, haverá ordem e progresso “neste país”? Os homens públicos tomarão vergonha na cara, de uma vez por todas? Os corruptos serão definitivamente presos? Quem tem uma aposentadoria milionária saberá entender que está incompatível com a pobreza dos milhões de brasileiros desempregados?

Se a canoa não virar, senhores, estaremos a salvo. Mas é extenso e quente este deserto do Saara, o sol queimando a nossa cara. Alalaô. Sim, é das Arábias. Somos testemunhas de um caos vergonhoso e terrível. Uma cidade tão linda como o Rio de Janeiro não pode viver o drama desesperador dos tiroteios em plena luz do dia, tirando a vida de inocentes.

Doentes não podem ficar deitados no chão dos hospitais públicos. Uma mulher tem direito de dar à luz pelo menos numa cama hospitalar, com algum conforto e higiene. Algo está errado “neste país”, com a máquina pública tão inchada que não cabe mais ninguém nela. Ou cabe? Cabe, os apadrinhamentos não têm fim. E pagam-se milhões por parcerias e conchavos.

Vamos perguntar juntos: que país é este? Que futuro desejamos para o Brasil? Tenho certeza de que todos desejam o mesmo. Justiça, honra, dignidade, trabalho, erradicação da ignorância, da miséria, da desesperança. Faz tempo que ouvimos promessas vazias.

Pronto, falei. Bom Carnaval. Brinque com moderação.

Deixe uma resposta