SKOLÉ – PARTE UM
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A escola sempre foi considerada a casa do saber. Para os gregos, o “étimo, SKOLÉ, designava o tempo liberto de ocupações, que podia ser dedicado livremente à amizade e a cultura do espírito. O termo passou depois a indicar a instrução, ministrada e, por extensão, o lugar ou edifício onde se tinha sede, e também os próprios alunos de um mestre, como continuadores do seu ensinamento” (Dicionário de Pedagogia).
Mas nossas escolas – grosso modo – são locais adequados, agradáveis ou prédios fechados por grades e muros? Nos dias atuais a escola parece não ser mais a casa de encontros, de amizades de troca e discussões de ideias. Algumas instituições não apresentam condições necessárias a um aprendizado saudável. Professores estressados e desvalorizados; alunos desmotivados e desinteressados. Com elevado índice de evasão, muitas escolas se tornaram palco de brigas, discussões, bullyng, danos em veículos de funcionários, uso de celular na sala, desrespeito e outros conflitos relatados com certa regularidade pela imprensa.
“Por pressão curricular, o brincar praticamente desapareceu no ensino fundamental. Só há espaço para ‘disciplina e obediência’. Há casos em que o espaço de brincar se limita a uma salinha lotada de brinquedos. Assim, a escola só induz crianças consumistas. Brincar é uma linguagem e não um comportamento”. (Gisela Wajskop, socióloga. Folha de São Paulo 28.03.11).
Os fatos apontam não mais uma época de mudanças, mas uma mudança de época. Enquanto o conhecimento pulula e as informações rodeiam o mundo em segundos, a escola se fecha sobre si mesma como a proteger uma estrutura que não responde mais às necessidades das novas gerações. Nestes últimos 50 anos o mundo mudou em todos os aspectos. Lousa na parede e giz nas mãos a escola continua com os mesmos métodos, eficazes, sim para enquadrar, alienar e submeter. Esse sistema de transmitir conhecimentos na verdade tem servido para disseminar uma ideologia que não mais se sustenta. As grades e muros cada vez mais altos são sintomáticos. Essa escola já cumpriu seu papel e finalmente e felizmente se encontra em estágio terminal, em que pese à teimosia dos motivados por outros interesses que não a educação. “Censo do Ensino Superior aponta que formandos em cursos que preparam professores caíram 50% em quatro anos”. (Jornal de Piracicaba 02.02.11). “Alunos que entram na USP para formação de professores de matemática não querem lecionar”. (Folha 01.04.13. C1). “São Paulo convoca, pela 4ª vez, docentes reprovados em teste. Para o governo, agora os ‘reprovados’ são chamados de ‘classificados’”. Folha 02.03.13. C 1.
Sintomática, também a presença da polícia, cada vez mais solicitada para implementar a disciplina ou por causa de agressões a professores, tráfico de drogas, alunos armados, pais revoltados. Aos poucos ela vem se tornando parte integrante do pessoal de apoio. Câmeras de vigilância, agora dentro das classes, comprometem a qualidade das relações enterrando de vez a espontaneidade e a naturalidade dos comportamentos, condições indispensáveis para o aprendizado e formação da personalidade do cidadão em crescimento. O controle, a vigilância e a delação foram institucionalizadas onde deveria prevalecer a liberdade, a coresponsabilidade, a tolerância, o diferente e o contraditório. Parece que a escola não deu conta que se perdeu no tempo e insiste em manter a qualquer preço sua necrosada estrutura. “Em média, faltam 10 professores por escola. Estimativa da APEOESP aponta para ausência de 30% dos 2.100 educadores na rede estadual, cerca de 630; pais reclamam que filhos não têm todas as aulas”. Jornal de Piracicaba 25.08.12. (Continua).