Rípoli e “contrato de produtividade”

ilustra025Conversemos um pouco de futebol. Até porque – além de ser paixão nacional, esporte, jogo – se trata de uma das mais poderosas forças econômicas mundiais. Aliás, entender as características e o que se esconde por trás do jogo, de todos os jogos, ajuda muito a compreender as relações do ser humano. O livro “Homo Ludens”, do filósofo Johan Huizinga – ainda na década de 1930 – é uma obra prima insuperável, onde ele mostra que o jogo é anterior à cultura, categoria absolutamente primária do ser humano, tão essencial quanto o raciocínio, formador da civilização. A obra é fascinante.

Mas o assunto é outro, ainda que sobre o jogo. Noticiou-se, recentemente, que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e clubes brasileiros começaram a estudar “contrato de produtividade” em relação aos jogadores. A discussão é em torno, principalmente, das contusões e ausências forçadas dos craques em partidas de futebol. O que pouca gente se lembra, no entanto, é que “contrato de produtividade” mais lógico, com mais resultados e inteligência, já havia sido criado e promovido, no E.C. XV de Novembro, pelo presidente Romeu Italo Rípoli, há mais de 40 anos. Até nisso, Rípoli foi pioneiro.

Aliás, não resisto – quanto me refiro a Romeu Rípoli – a comentar a sua personalidade. Certamente, foi uma das figuras públicas mais discutidas e polêmicas de Piracicaba. Tive oportunidade – e o privilégio – de estar próximo do Rípoli por mais de duas décadas. Conheci-o mais profundamente. E continuo com a convicção  de ter sido ele, para mim, uma das mais fascinantes pessoas que já conheci. Sua inteligência era espantosa. E sua cultura, sólida. Repito o que escrevi diversas vezes: em Rípoli, existia o mais completo cavalheiro, o gentleman, e o mais aprimorado cafajeste. Com toda certeza, especialistas diriam, hoje, que o Rípoli  era bipolar. Aliás, não entendo até hoje o que seja isso… Rípoli seria multipolar, acho eu.

Pois bem. O “contrato de produtividade” – que dividiu os meios de comunicação – teve uma repercussão bombástica. Rípoli, por sinal, era “assunto” diário da imprensa piracicabana, a favor e contra. Brigas, discussões, até agressões físicas, tudo acontecia quando Rípoli se manifestava. E, ao mesmo tempo, o refinamento das recepções que ele fazia em sua casa. O anjo e o demônio.

Pelo “contrato de produtividade”, o XV, com Rípoli, pagava um razoável – para não dizer que baixo – salário mensal e estabeleceu uma tabela de vencimentos para os jogadores, em caso de vitória ou de empate. Se o time fosse derrotado ao longo do mês, o salário era o básico, digamos que, talvez, dois ou três mínimos. Mas “os bichos” – prêmios por vitórias ou empates – eram compensadores. Assim, os jogadores tinham que “produzir”. E um detalhe fundamental dava credibilidade ao sistema: Rípoli – com ou sem dinheiro em caixa – pagava, pontualmente, os atletas.

A paixão de Rípoli pelo XV eu diria ter sido doentia. E sua obsessão para renovar o futebol ia na mesma dimensão. Quantas e quantas vezes, não o vi brigando, lutando – junto à Federação Paulista e à antiga CBD – para impor ideias novas, mudanças, transformações? Poucos o entendiam, mais poucos ainda o compreendiam. E, no entanto, mantenho a minha certeza, na rica experiência de tê-lo conhecido tão proximamente: Rípoli foi um homem à frente de seu tempo. Até na vida pessoal. Bom dia.

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