O gênio Pixinguinha

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“Pizindim, Pizindim! Era assim que a vovò Pixinguinha chamava”, diz o samba-enredo da Portela que o louvou, em 1973. Outras versões dizem que Alfredo da Rocha Vianna Filho ganhou o apelido com o qual ficou famoso por ser “moleque bixiguento”, com aquelas marcas no rosto que guardou até o fim. Pouco importa. Para a música popular brasileira, Pixinguinha foi o talento que definiu o chorinho e a fez a passagem para a modernidade.

O crítico e historiador Ary Vasconcelos não deixava por menos e assim o definia: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido. Escreva depressa: Pixinguinha.”

Pixinguinha nasceu no Rio de Janeiro em 1897, um dos 14 filhos de Dona Raimunda Maria da Conceição, e ele era um dos 10 da segunda união. O primeiro contato com a música aconteceu por meio do pai, Alfredo, que trabalhava nos Correios e era músico amador. No quintal da casa da família, no bairro do Catumbi, ele promovia saraus que atraíam músicos como o violonista João Pernambuco e o maestro Heitor Villa-Lobos.

A idade de onze anos, segundo o próprio Pixinguinha em depoimentos e entrevistas, foi o marco para sua entrada na música. O irmão Henrique o ensinou a tocar violão e cavaquinho e logo demonstrou talento. O pai, Seu Alfredo, percebendo que o filho tinha um dom especial, começou a levá-lo para os saraus. Dá uma flautinha de folha de flanders para o menino e o coloca para ter aulas, três a quatro vezes por semana.

Logo passou a tocar flauta e cavaquinho em festas e bailes. Com 13 anos compôs seu primeiro choro, Lata de Leite. De acordo com o pesquisador Sérgio Cabral, em seu livro Pixinguinha Vida e Obra, o título tem a ver com o costume de os músicos saírem de madrugada das festas e pegarem o leite deixado nas portas das casas pelos entregadores. Na mesma época, assumiu Pixinguinha, ele começou a consumir bebida alcoólica.

O ambiente boêmio sempre fez parte de sua vida, pois o primeiro emprego foi na casa de chope A Concha, na Lapa. Aos 15 anos já era música da Orquestra do Teatro Rio Branco e dois anos depois grava seu primeiro disco, que tinha a valsa Rosa.

Forma o grupo Oito Batutas, que faz grande sucesso e até consegue uma temporada em Paris, financiada pelo milionário Arnaldo Guinle. Em 1937 Carinhoso, melodia dele, ganha letra de Braguinha, e interpretação de Orlando Silva. Na década de 40, ganha fama como arranjador nas gravadoras. A partir de 1942, troca a flauta pelo saxofone. Ele contava que foi uma decisão comum, mas havia outras versões: teria perdido a embocadura por conta de problemas dentários ou tremia as mãos em virtude do alcoolismo. Na mesma época, encontra um parceiro inseparável no flautista Benedito Lacerda, fundamental para profissionalizar sua carreira. Assim, compra sua primeira casa, no bairro de Ramos.

Nos anos 50, dá aulas de música na Escola Municipal Vicente Licínio Cardoso, na Saúde. Começa a frequentar, em 1953, aquele que seria seu “escritório” até o fim da vida: o Bar Gouveia, onde ganha uma cadeira em que ninguém além dele pode sentar. Nos anos 60, é lançado o disco Gente da Antiga, em que faz parceria com João da Baiana e Clementina de Jesus. Morre em 1973, na manhã de 17 de fevereiro, quando iria batizar o filho de um amigo na Igreja Nossa Senhora da Paz. É fulminado por um infarto, em pleno altar.

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