A universidade é nossa

Uma das poucas e últimas manifestações de Davi Barros, ao se despedir de alguns alunos, é uma confissão da barreira que ele próprio criou e, ao mesmo tempo, admissão de uma possibilidade mais concreta de entendimentos e de participação. O agora já ex-reitor disse que, com sua saída, abriam-se novas oportunidades de diálogo. Nisso, ele tem razão e torna-se senha para que Piracicaba possa, enfim, assumir seu papel na crise de uma universidade que, antes de mais nada, é nossa. Uma universidade de Piracicaba como sonho de nossos antepassados, que, antes dela, haviam criado a Universidade do Povo; uma universidade de Piracicaba desde quando o Reverendo Chrysantho César criou e instalou as primeiras faculdades, façanha que contou com o maciço apoio de lideranças piracicabanas; uma universidade nossa quando o dr. Richard Edward Senn desenhou o sonho e o efetivou, tendo empresários, lideranças políticas, famílias e personalidades expressivas de nossa terra a lhe dar suporte.

O Colégio Episcopal da Igreja Metodista, influindo decisivamente no primeiro passo para reequacionar a crise, deveria, pensamos nós, avaliar a dimensão histórica da UNIMEP e do IEP não apenas para os metodistas, mas para os piracicabanos. São instituições visceralmente unidas a Piracicaba e a nossa gente. Pelo Colégio Piracicabano, já há quase 150 anos, passam filhos desta cidade que se formam a partir de um projeto pedagógico cujas raízes foram plantadas também pelos Moraes Barros, Prudente e Manoel, no apoio decidido a Martha Watts. Foram piracicabanos que, enfrentando os ranços religiosos da época, não hesitaram em participar de um projeto educacional que, iniciado no século 19, chega ao século 21.

A UNIMEP precisa ser contada desde quanto se instalaram as primeiras faculdades, nas quais legiões de piracicabanos se formaram, grupos de empresários, de contabilistas, de políticos, desde o seu primeiro vestibular, em 1º de abril de 1964. São, portanto, 44 anos de atividades, de vivência com piracicabanos, numa simbiose formidável que permitiu a consolidação de um nome e o respeito por seu ensino. A Igreja Metodista comete um erro fatal quando não ouve Piracicaba, quando se esquece da multidão de ex-alunos e de ex-professores que não apenas construíram a UNIMEP, como poderiam, ainda hoje, contribuir decisivamente para encontrar soluções, respostas, saídas.

Foi óbvio que, nesses dois anos de intensa crise e de enfrentamentos, os poderes municipais se alhearam, com um silêncio historicamente comprometedor da Prefeitura e da Câmara Municipal, onde estão também ex-alunos, ex-professores, ex-funcionários. Mas há toda uma sociedade piracicabana cujas principais lideranças passaram pela UNIMEP e nela se forjaram. Estão na indústria, no comércio, nas entidades de classe, nos sindicatos, nos clubes de serviços, na agricultura, homens e mulheres que poderiam contribuir com seu talento e seus dons para uma universidade que amam e que sabem ser piracicabana.

Talvez, seja esse o momento de – por que não? – criar-se uma entidade de ex-alunos e de ex-professores, também de ex-funcionários, que possa contribuir para o diálogo, para a busca de soluções e, acima de tudo, para ser interlocutora entre as partes. Um Conselho Diretor não pode mais ser constituído apenas de pessoas que, em sendo fiéis à Igreja, nada ou quase nada tem a ver com a realidade piracicabana e da nossa região. Santa Bárbara d´Oeste, com sua pujança e sua participação histórica na construção da UNIMEP, tem muito também a contribuir, pois a universidade é dela também, o sonho de uma universidade regional, voltada à realidade sócio-econômica de nossos municípios que precisa ser retomado.

Sem a participação efetiva, decisiva, firme de Piracicaba, nem a Igreja Metodista, nem este ou qualquer outro Conselho Diretor encontrarão novos caminhos. Há, sim, como admitiu o ex-reitor, novas possibilidades de diálogo. Por que, então, não convocar, não convidar, não chamar as fortes e responsáveis lideranças comunitárias de ex-alunos, ex-professores, ex-funcionários?

 

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