Ponte e Santo Antônio

Pelo ritmo das coisas, alguém haverá de concluir que Piracicaba está prestes a se transformar na cidade com maior número de pontes por habitante, pelo menos no Estado de São Paulo. Para quê tantas delas, isso ainda não foi explicado, mas há coisas para as quais não se precisa de explicações, além das do bom senso. Felizes estão empreiteiros, principalmente os especializados em construções de pontes. E as revendedoras de automóveis, pois estes são, pelo visto, a prioridade dos administradores municipais. Tudo para automóveis, pouco para as pessoas.

Enquanto a Câmara de Vereadores fica procurando novos meios para homenagear pessoas, conceder títulos e fazer demagogia barata e culposa com o dinheiro da população, a administração pública continua sem uma vigilância decente e séria, numa mancomunação de interesses que nivela os poderes à mesma rama, incluindo o Ministério Público que ignora, ao contrário do que acontece em outras cidades, o que ocorre com a gestão do dinheiro público.

Seria interessante, à guisa de orientação, que se procedesse à leitura filosófica de um livro básico para o entendimento das coisas: “Política: quem ganha o quê, quando, como”, de Harold Lasswell”. Para o Brasil – do qual, aliás, Piracicaba faz parte – a leitura é oportuníssima. Uma das observações, esta, de Lord Bryce: “governo é o governo de poucos, em nome de alguém, de poucos ou de muitos.” Obviamente, os srs. Vereadores não têm interesse em saber disso.

De qualquer maneira, vem aí uma nova ponte, complementando a Rebouças, a eternamente velha Ponte Nova. Divulgou-se haver, também, interesse turístico, com um mirante no alto. Mas não se falou se haverá prejuízo visual e ambiental para as nossas lendárias Ilhas dos Amores, estas, sim, formidáveis potencialidades como centros de lazer e de entretenimento, num complexo que, historicamente, deveria estender-se até o Bongue, acompanhando as duas margens do rio. Como, no entanto, o governo sempre é de poucos para poucos, a imensa maioria da população fica fora dos projetos, das ambições e das possibilidades dos que querem ganhar sempre.

Se os vereadores tivessem mesmo algum interesse na própria história da Câmara Municipal, poderiam fazer uma pesquisa nos anais daquela casa para, então, descobrirem que, em se tratando de belezas e turismo, a própria edilidade aprovou, ainda no governo de Luciano Guidotti, um projeto para se construir, junto ao Salto, uma imagem do padroeiro, Santo Antônio, em sermão aos peixes. Tratava-se de uma inteligente e oportuna proposta, unindo a religiosidade da cidade à lenda, uma mitologia piracicabana que serviria à população e, também, à curiosidade turística.

Fica-me, porém, uma dúvida: quem ganharia o quê com uma escultura de Santo Antônio em oração aos peixes? Afinal de contas, sabe-se que o diabo foge da cruz. Bom dia.

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