Descobrindo Michael Jackson

Confesso ter-me surpreendido com a comoção mundial diante da morte de Michael Jackson. Mas descobri ser, a surpresa pessoal, resultado de minha quase absoluta ignorância a respeito da obra do artista e sua impressionante influência sobre um universo múltiplo de pessoas. Para mim, Michael Jackson era, apenas, uma personalidade estranha, uma figura singular, pessoa complicada, como que um andrógino. Mais do que suas músicas, como cantor e compositor, dele eu apenas sabia de uma vida confusa, de atitudes excêntricas. E, com esse pouco de informação, congelei minha avaliação. Ou seja: Michael Jackson era, para mim, um astro de um universo musical que nada tinha a ver comigo, com minhas opções, com minhas preferências.

No entanto, os veículos de comunicação – todos eles, incluindo os eletrônicos, os novos meios – de tal forma se agitaram, tanto deram ênfase à morte, à vida, à obra de Michael Jackson que comecei a desconfiar: Alguma coisa estava errada. E era comigo. Pois, na verdade, eu, simplesmente, não sabia quem era e quem foi Michael Jackson. A não ser de suas excentricidades, de processos, de acusações de pedofilia. Mea culpa.

Michael Jackson reverenciado por Mandela; por Lady Di; por presidentes da República e por reis e por príncipes. Michael Jackson sendo pranteado em todas as partes do mundo, no Oriente e no Ocidente; a África chorando por Michael Jackson; todos os canais de tevê, todos os jornais, todas as emissoras de rádio esquecidos do resto do mundo para lamentar a morte do popstar, como se fossem secundárias as desgraças universais da fome, das guerras, da miséria, da violência. Algo estava errado, pensei. E era eu.

Essa verdadeira idolatria por Michael Jackson tem significados que vão muito além de nossa simples racionalização das coisas. Há algo mais que se espalha pelo mundo, que contamina, que apaixona, que se transforma em fenômeno universal. O quê seria? Na verdade, há coisas que se não explicam, mesmo porque, até mesmo não gostando do trabalho e da obra de Michael Jackson, milhares de pessoas o amavam, milhões o reverenciavam. No noticiário de televisão, uma frase se foi repetindo em pessoas entrevistadas nas mais diferentes partes do mundo: “É como se eu tivesse perdido alguém de minha família.” Eis aí, pois, o segredo e o mistério: Michael Jackson atingiu o coração das pessoas e elas o tiveram como alguém de sua intimidade.

Quanto a mim, comecei a entender Michael Jackson a partir de sua morte. E mais pelas multidões amarguradas do que por ele mesmo. Esse homem está eternizado como o mistério que ninguém desvendou. Bom dia.

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