MÃO ÚNICA

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Sem títuloUma amiga médica me contou que durante o atendimento a uma chilena, ‘morreu de inveja’ porque, dizia ela, que no Chile nenhum jovem tem CNH, e as famílias quando têm carro é só um e pouco usado porque o transporte público é de primeira. Ela está morando em Piracicaba, porém se sente perdida com a falta de coletivos e horrorizada com o trânsito piracicabano.

O caminho que Piracicaba pegou quem fez está voltando. Endeusar o prefeito anterior pelas obras que fez para dar vazão a carros – algumas necessárias, sem dúvida – é coisa de quem desconhece, pouco lê e se interessa pelo assunto. “Em vez de criar soluções inteligentes de integração de transportes, constroem viadutos com uso intensivo de carros. (…) há prevalência do transporte individual motorizado em detrimento do coletivo, prática pouco sustentável”. (Thiago Guimarães, coordenador do estudo sobre mobilidade urbana. Folha de São Paulo 23. 10.11).

Leio na imprensa local que acidente de trânsito é a principal causa dos atendimentos no COT. Um gasto abusivo do SUS com placas, parafusos, tratamentos, próteses. De 2011 para 12, aumentaram em 166% os atropelamentos. O potencial de acidentes de trânsito é maior e mais preocupante que a criminalidade. Em setembro último, a cidade teve 468 acidentes, 130 com vítimas. O Fórum da Mobilidade aprovou 38 propostas em 2011; a prefeitura não se interessou. De tanto falarem, fez riscos no chão e chamou de Ciclofaixas.

O privilégio dado ao particular com o dinheiro público vem se tornando insustentável. Na cidade se prioriza o coletivo. Se em 90% dos casos, a imprudência foi a causa dos acidentes, o problema está atrás do volante. Adianta estrutura viária de 1º mundo para trogloditas? Ora, um povo mal educado e egoísta precisa de correção, não de mimo. É mal intencionado um governo que faz obras para agradar esse tipo de gente. Numa cidade civilizada, um cuida do outro e se porta com respeito, principalmente sob condições adversas. Dizem que não fossem essas obras, seria o caos. Porém, se tivessem priorizado o transporte público seriam elas todas necessárias? 70% dos carros levam uma só pessoa, que poderiam muito bem deixá-los em casa se os milhões de reais gastos em pontes e avenidas fossem aplicados imediatamente no transporte coletivo. Um bonde tiraria 50 carros das ruas Tenho saudade deles. Eram arejados, seguros, alegres, baratos. Neles as pessoas conversavam e estreitavam laços.

Estilhaços de vidro, peças retorcidas no asfalto, carros virados e espatifados; ambulância recolhendo feridos e até mortos são cenas cada vez mais comuns em nosso cotidiano. Vidas ceifadas, famílias destroçadas, gente desesperada, revolta e prejuízos para o Estado, para prudentes e imprudentes. E raramente coletivos estão envolvidos nessas tragédias.

O gestor público sabe muito bem que a única saída é investir no coletivo. Se não faz deveria ser responsabilizado judicialmente por incentivar a destruição da vida e do meio ambiente; e por enganar ingênuos, já que o que buscam não é o melhor para a cidade, mas a sustentação de projetos político-partidários. Aqui, além de fazer nada pelo transporte público a administração aumentou a tarifa acima da inflação.

Precisamos ser implacáveis com os políticos. Quando fazem bem não fazem mais que obrigação; ganham demais para isso e foi o que prometeram. Se fazem mal sabem muito bem que estão fazendo, pois dispõem de assessoria especializada e de todos meios de informação. Carecem respeito e reconhecimento, mas não complacência muito menos bajulação e nem foro privilegiado, pois se num país abençoado como o nosso existem miséria, violência e injustiças são eles os principais culpados; se não por ação, por omissão.

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