9 de Julho e o Soldado Piracicabano

O “9 de Julho” é uma das datas magnas da história cívica de São Paulo. Quando, durante o golpe militar, se minimizou a grande epopéia – anulando-se, inclusive, o feriado cívico – muito dessa história foi relegado a segundo plano, pois o objetivo era o de se esquecer a vocação paulista para a democracia e a constitucionalidade. Piracicaba entrou, também, nessa fase de banalização da história, de forma que se tornou secundária também a memória de nossos feitos, de nossa participação, do heroísmo piracicabano na saga paulista.

Nestes últimos anos, quando a Revolução Constitucionalista de 1932 retorna ao calendário cívico – e as comemorações se multiplicam pelo território paulista – é lamentável que Piracicaba se comporte apenas como coadjuvante ou expectadora, quando, na realidade, esta cidade foi ponta-de-lança na rebelião paulista. Daqui, saiu um dos primeiros batalhões do interior de São Paulo e a revolução teve, no comando, líderes da envergadura de um Paulo de Moraes Barros e de um Francisco Morato.

Essa história piracicabana, na grande epopéia paulista, não pode e não deve ser minimizada pelos piracicabanos. E é lamentável que a Prefeitura tenha tão pouco conhecimento dessa história de forma a deixá-la passar quase em branco, a não ser uma que outra comemoração absolutamente pro-forma. É esse, talvez, o grande problema que mina Piracicaba: os políticos do poder não têm dimensão da história e se amoldam a pragmatismos inócuos e apenas oportunistas. Há uma ignorância tumular e, ao mesmo tempo, um desinteresse quase absoluto pelo conhecimento de nossa história, de nosso passado, de nossos líderes e heróis de tantas conquistas.

O primeiro batalhão piracicabano partiu em 16 de julho de 1932, poucos dias depois, portanto, dos primeiros gestos e atitudes revolucionárias. O Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes guarda a história e o nome desses nossos heróis, sendo Ennes Silveira Mello o primeiro mártir a tombar na linha de defesa de Queluz. A prisão de Francisco Morato, o grande jurista e líder político, passou para a história como um dos momentos mais infames daquele início da ditadura Vargas.

O monumento ao Soldado Constitucionalista, construído por Luiz Dias Gonzaga – e, depois, removido em historicamente lamentável atitude de João Herrmann Neto – registra essa história com versos imortais de Francisco Lagreca.

A família de Renato Leme Ferrari, bisneto de Francisco Morato, deve guardar a preciosidade histórica das cartas que o notável jurista escreveu, da prisão e do exílio, para seu genro Celso Leme e para Cecília, sua neta do coração.

O “9 de Julho” merece, em Piracicaba, lideranças mais lúcidas e nobres que o comemorem com a dignidade histórica de que se reveste para São Paulo e, em especial, para nossa terra. Estamos sendo soterrados pelo desprezo à memória. Mas desprezá-la é próprio de lideranças medíocres. Bom dia.

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