A ESPN-Brasil está em casa

pictureAinda me é estranho, embora honroso, admitir tenha-me tornado o decano da imprensa piracicabana, dos ainda em atividade. Além de honroso, é-me um privilégio também de vida, pois meu olhar e lembranças remontam a 52 anos de jornalismo em e por esta terra querida. Mais de meio século, pois, de ver, ouvir, acompanhar, muitas vezes no palco, outras tantas na platéia, também como ator e espectador. De certa forma, posso, sim e orgulhosamente, dizer como o poeta: “Meninos, eu vi.” E ouvi. E vivi. E participei.

Essas coisas, digo-as pela agradabilíssima surpresa – e confessado encantamento – diante da verdadeiramente espetacular cobertura que a ESPN-Brasil tem feito dos Jogos Aberto do Interior e dos valores piracicabanos. Ora, o intróito foi para dizer que já vi quase tudo, especialmente na área do jornalismo. Vi grandes coberturas, profissionalismo sério e competente, vi notáveis repórteres, conheci nomes famosos do jornalismo, rádio e tevê do Brasil, em memoráveis coberturas de Piracicaba. No entanto, não me recordo de ter visto uma equipe e programas, como os da ESPN-Brasil em Piracicaba, marcados por tanta sensibilidade que, a mim, me parece muito próxima da paixão, essa que Piracicaba desperta em quem se deixa seduzir por seus encantos.

Em menos de dois dias, a equipe da ESPN-Brasil fincou raízes, aportou, lançou âncoras. Não se pode sequer dizer que eles “se sentem em casa”, pois é mais do que isso. Eles estão em casa, como se retornassem para origens das quais apenas se tinham afastado por algum tempo. Aliás, deve ser esse um dos mais sagrados e misteriosos dons de Piracicaba: o de ser lugar de um eterno retorno, como se nada daqui fosse estranho a ninguém, pois estranho é o que está à margem deste ninho. A nossa música, na paixão imortal de Newton de Mello, diz desse mistério: “Ninguém compreende a grande dor que sente/ o filho ausente a suspirar por ti.” E mais: “Só vejo estranhos, meu berço amado, tendo a meu lado o que perdi.”

Ora, direis: os moços da ESPN-Brasil são, todos deles, de “outra plagas”. Pois é por isso mesmo que eles “estão em casa” em Piracicaba, no mistério tão sagradamente nosso de esta terra ser como a fonte original de todos os berços e de todos os ninhos. O “ser piracicabano” não é condição singular no sentido de único. Pelo contrário, a singularidade está nessa universalidade cativante, na síntese que marca a nossa história: quem teve o umbigo plantado na terra onde nasceu reencontra-o aqui, em nossa terra, como que conservado em seus valores mais doces e ternos, mais humanos e generosos.

Confesso, pois – decano desta imprensa caipiracicabana – que me vejo encantado diante do trabalho amoroso, gentil, competente e sincero desses moços que, em tão poucos dias, foram tocados pela chama da piracicabanidade e se revelam tão ribeirinhos quanto o Tangará, tão cururueiros como Abel Bueno, tão apaixonados por esta terra como os mais tórridos amantes dela, entre os quais me incluo.

Dos caminhos e tempos de onde venho, quero, enfim, dizer – e espero ser compreendido – que o melhor desses moços da ESPN-Brasil, talvez refletindo o espírito da emissora, é que eles não são, tão só, competentes e valorosos profissionais na razão. Eles são profissionais também com a doçura de coração amador. Se a casa também é deles, rendamos graças. E bom dia.

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