Bendizendo o controle remoto

Em minha pobre opinião, uma das maiores invenções da humanidade – depois da roda – é o controle remoto de televisão. Pois, para minha saúde psicológica e mental, nada conheço de tão terapêutico. Com o controle remoto, liga-se e desliga-se a televisão, muda-se de programa, procura-se canais e, acima de tudo – ulalá! – se consegue emudecer a programação. Meu Deus! O que seria de mim se o controle remoto não me possibilitasse emudecer, calar, silenciar sufocar o som da propaganda das Casas Bahia?

Dizem que Samuel Klein, um dos donos das Casas Bahia, é um gênio comercial e acredito nisso. Afinal de contas, apenas um gênio, com sua origem judaica, teria a idéia de dar o nome popularesco de Bahia a uma loja com tão avançados produtos da modernidade. Klein, com a Bahia, repetiu o acerto das Casas Pernambucanas, donde se conclui que o alvo foi um público mais simples, ainda que majoritário. Viva pois Samuel Klein que, agora, faz sociedade com o Abílio Diniz e realiza a grande parceria que me traz alguma esperança: Casas Bahia/Pão de Açúcar.

E a esperança é de que o Pão de Açúcar – com seu estilo suave de ‘lugar de gente feliz” – diminua o berreiro, a gritaria, a histeria proposital e maleficamente científica da propaganda das Casas Bahia. Pois a gritaria e o barulho são artifícios científicos para atrapalhar a razão das pessoas, a capacidade de raciocínio, de discernimento. Enlouquecidas pelos ruídos, elas agem por impulso. A genialidade de Samuel Klein percebeu isso e, até aqui, ganhou. Por outro lado, Abílio Diniz aprendeu que um público mais refinado gosta de serenidade, de civilidade, de harmonia e o Pão de Açúcar faz divulgação que é toda doçura.

Uma das cenas mais ridículas, ainda que significativas, que já vi na televisão brasileira foi aquela do Raul Gil como garoto propaganda das Casas Bahia. Foi decisão de gênio: quem, como Raul Gil, para dar gritos, promover histerias, propagar o patético, atormentar ouvidos e cérebros de espectadores? Ainda que tirado do ar, Raul Gil ficará, para sempre, na retina da memória de alguns brasileiros como o mais ridículo personagem de que as Casas Bahia soube se aproveitar.

Por isso, celebro e bendigo a existência do controle remoto. É meu fiel aliado, companheiro salvador, que me impede ser atingido pelas ondas histéricas da televisão. Pois, na verdade, as Casas Bahia podem até ganhar o prêmio de campeãs da perturbação na tevê, mas não estão sozinhas. As agências publicitárias optaram pelo terrorismo auditivo, uma conhecida forma de poluição sonora que desequilibra raciocínios. Nas câmaras de tortura de ditaduras, das mais antigas às atuais, que ainda existem, o uso do som para enlouquecer e vencer resistências mentais e psicológicas é técnica conhecida. Os publicitários sabem o que estão fazendo: enlouquecer, torturar, atordoar, emburrecer pelo som. Aliás, até as casas comerciais e supermercados, com sons internos e locutores insuportáveis, nos infernizam a vida, a alma e contaminam o espírito com a tortura sonora.

Diante do televisor, ainda dou um jeito, com meu adorável, amado e inseparável controle remoto. Mas nas ruas, nas casas comerciais, a alternativa, até aqui, me parece simples: não sair e não comprar, colocar cera nos ouvidos. E uma terceira saída: comprar pela internet. Bom dia.

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