S.O.S. Saúde

SOSNa verdade, lá estava, eu, procurando um telejornal, o controle remoto mudando de canal rapidamente. Aliás, um parêntese: fez-se uma pesquisa em que se revelou que uma das causas principais, atualmente, de separação de casais é o uso do controle remoto pelo marido. A mulher não suporta a rapidez com que o homem muda de canal, como passeia, como zapeia parecendo nada enxergar. Fecho parêntese e retomo o assunto. Procurando, então, um telejornal deparei com um documentário do Michael Moore, o jornalista estadunidense mais odiado pelos políticos e poderosos da terra de Obama. O título do documentário, de que eu já ouvira comentários: “S.O.S. Saúde”.

Confesso que a minha primeira reação diante do que vi e à medida se alongava o documentário com fatos, com testemunhos, com a realidade cruel a que se submete o povo dos Estados Unidos, a primeira reação foi de desprezo pela crônica brasileira que, comprometida, canta loas ao “american way of life” sonegando as misérias, infâmias e crueldades.

Michael Moore conseguiu transmitir uma radiografia da desumanidade do sistema de saúde dos Estados Unidos onde a única condição, até antes de Obama, para se manter vivo era ter disponibilidade financeira ou condições econômicas. A saúde se transformou num imenso, grandioso negócio, numa indústria poderosa a ponto de controlar governos ao lado da indústria de armamentos e farmacêutica. É esse modelo de capitalismo selvagem de individualismo brutal que grande parte de nossa imprensa e a maioria dos políticos hoje em oposição a Lula deseja que imitemos.

No documentário, os bombeiros e voluntários que socorreram vítimas na tragédia do 11 de setembro, com o desabamento das Torres Gêmeas, passaram de heróis – consagrados e louvados por Bush – a pobres vítimas abandonadas, esquecidas, sofrendo de enfermidades consequentes ao que enfrentaram e viveram durante aquela tragédia. Abandonados por governo, sem direito a atendimento médico, são homens e mulheres inutilizados e marginalizados, da mesma forma como o foram e tem sido os chamados heróis de guerras antigas, como as da Coreia, do Vietnã, do Golfo e, agora, do Iraque e Afeganistão. Não há solidariedade e muito menos misericórdia e compaixão. Pior ainda: não há respeito pela dignidade humana, enquanto Tio Sam gasta um trilhão de dólares para a destruição do Iraque e para a impossível batalha contra o nacionalismo e o fanatismo afegãos.

E Cuba, a Cuba que a imprensa brasileira trata como um cãozinho vira-lata, a ditadura dos irmãos Castro, a Cuba que vive na miséria por culpa do bloqueio econômico que lhe foi imposto exatamente pelos Estados Unidos? Pois foi a Cuba, essa mesma Cuba, que Michael Moore – que ninguém pode tachar de comunista – levou aqueles homens e mulheres abandonados pelo seu próprio país, heróis que se tornaram vítimas. Em Cuba, eles tiveram tratamento de primeiro mundo, com equipamentos de primeiro mundo, medicamentos gratuitos, pouco importando aos cubanos se aqueles homens e mulheres eram ou não estadunidenses. O Corpo de Bombeiros de Cuba fez questão de prestar homenagem aos seus colegas de profissão dos Estados Unidos, com abraços fraternos e com a frase comovedora: “Bombeiros, somos irmãos em todo lugar do mundo.”

O Brasil, com a precariedade de nossos sistema de saúde e com os absurdos que se vão multiplicando com planos particulares e com a ineficiência dos governos municipais, estaduais e federal está ameaçado de imitar os Estados Unidos. Parece ser a nossa sina: copiar o pior de lá; ignorar o melhor. Não é, pois, verdade que tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Muito pelo contrário. Bom dia.

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