Cão rejeita osso?

picture (38)Sabem lá o que é, no glorioso vigor dos 45 anos, solteiríssimo, estar todo disponível na praia do Cumbuco, no Ceará? Quem não conhece saiba: tenho quase certeza de ter sido lá que aconteceu o pecado original, o banquete de Eva e Adão com a maçã. O lugar era – hoje, não sei – o paraíso que nem Dante soube descrever, delícias de Primavera eterna. Alguém disse que paraíso é “lugar sem lei e sem rei.” O Cumbuco era assim.

Pois lá estava eu, quando, à minha esteira na areia, se achegou um casal de Ribeirão Preto. O jangadeiro vinha, levava-me ao mar, trazia-me de volta. Da palhoça, caiçaras generosos traziam-me caipirinha, camarões. E eu tive certeza: os deuses estavam com inveja de mim. Ouvi, então, uma voz de mulher jovem, pedindo-me lhe acendesse o cigarro. Abri os olhos, fiz-me cavalheiro. Agradecendo, ela sorriu, falou: “Gosto de homens peludos.”

Ora, falam-me, em minha casa, que, além de cara de idiota, sou um idiota total: “Você não percebe cantada de mulher.” Acho que não. Desde aqueles tempos gloriosos. Pois, andando pela praia, a bela moça aproximava-se da esteira, sorria, olhava, voltava a andar. E retornava. Então, a mulher de Ribeirão Preto me falou: “Cachorro que rejeita osso merece paulada.” Não entendi. Ela repetiu: “Cachorro que rejeita osso…” A moça reapareceu. A mulher insistiu: “Cachorro que…” Entendi, fui atrás. Quase latindo.

Lembrei-me de coisas edênicas por, na verdade, estar angustiado de pena dos rapazes, especialmente dos adolescentes. É uma judiação o que as raparigas em flor fazem com eles. A fisiologia masculina é vulcânica. Provocá-la é perigoso, como instigar erupções incontroláveis. Quem controla vulcões urrando, jorrando lavas, explodindo de si mesmos? Hormônios jovens são assim vulcânicos, descontrolados, de erupção repentina. Um professor de Medicina Legal, em meus tempos de Universidade, dizia-nos, teorizando sobre questões sexuais: “sêmen aprisionado, loucura na cabeça.” As mocinhas precisam ter cautela: meninos enlouquecem.

É uma festa de corpos. Retumba o sucesso da atual calça feminina, a de cintura baixa, apertadíssima, que acentua os efeitos, digamos, calipígios da mulher, modelando as tais partes pudendas, a dita região glútea, o “derrière”, os arredondados dorsais, os bumbuns da moçada. Danadas, essas moças. Demoníacas. O pessoal da Inquisição tinha uma parte de razão: mulher é feiticeira, fazedora de bruxarias. Se acende fogueiras, tem que arder nelas. Mas, só depois…

Vi uma garota com uma flechinha de Cupido tatuada quase um palmo abaixo do umbigo, em direção às intimidades frontais. Outra jovem calipígia fez tatuar uma pequena e aparentemente apetitosa maçã à altura do cóccix, o ossinho na divisa das partes glúteas, arredondadas. Flechinhas e maçãs em locais tão atraentes aos moços pedem o quê? Recitação do terço?

Penso, à vezes, em convidar religiosos – que propõem castidade aos rapazes – para irmos a uma praia ou a shoppings. Seria apenas para babar diante da festa das moçoilas em flor. Depois de meia hora, todos ofegantes, eu perguntaria: “Quem de nós vai se confessar primeiro?” Perto estivesse, o Maluf ponderaria: “Calma: estuprem, mas não matem.” Não sei como o Papa reagiria.

Ora, nada mais tenho com isso. Mas sinto pena dos moços, enlouquecidos diante do cio do mundo. Se me perguntassem, eu diria o que ouvi no Cumbuco: “Cachorro que rejeita osso merece paulada.” Vale para todas a idades. E explica tudo. Que ninguém é de ferro. Bom dia.

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