Davi contra Nelson Freire

picture (21)Com toda a certeza, Davi Barros deve conhecer as técnicas de gerentes das Casas Pernambucanas e, também, pode ter aprendido estratégias com tesoureiros, contabilistas e financistas de igrejas congêneres, como a Universal ou Renascer. Mas tenho lá minhas dúvidas se ele já ouviu falar de Nelson Freire. Ou do que significa um Steinway.

Em tempo, antes que a cabeça de Davi entre em um de seus espetaculares parafusos: não confundir Nelson Freire com Nelson Rodrigues que, por sua vez, é o dramaturgo mais vivo do que morto, não o nosso admirado cientista Nelson Rodrigues, cá de Piracicaba. Mas é tolice minha esperar que Davi Barros entenda de outra coisa senão a de sua missão – que não é messiânica, como julgam alguns analistas de coração mais puro – que é apenas empresarial. Se Davi Barros fosse contratado por uma empresa de recauchutagem de pneus, seria o mesmo. Desde os tempos de Richard Senn, ele foi assim. Homens bons, Elias Boaventura e Almir Maia suportaram Davi Barros, deram-lhe oportunidades. Mas minimizaram a figura atemporal de Judas.

Voltemos, porém, a Davi e Nelson Freire, o pianista, o virtuose, o homem a cujas mãos e dedos o mundo se rende, como se diante da expressão do divino. Aliás, as igrejas protestantes são as que mais cultuaram a música como expressão do amor a Deus e de Deus. Não me falhando a memória, foi Lutero – também músico, tocador de flauta e alaúde – quem disse ser, a música, “o dom excelente de Deus”. O Metodismo deu, ao mundo, gênios musicais, a partir da Família Wesley, que acreditaram no poder salvífico e evangelizador da música. Então, fica explicado: Nelson Freire transmite “o dom excelente de Deus”. E o fez, de maneira histórica e gloriosa, no Teatro Unimep. Que, pois, Davi não confunda Nelson com bolso.

Quanto ao Steinway – não confundir com H.Stern, com stand by – trata-se do mais precioso piano construído no mundo, como que o Stradivarius do teclado que Almir Maia, com sua visão universal, obteve para a Unimep e para Piracicaba. Quantas universidades brasileiras, quantas cidades podem se orgulhar de ter um Steinway, adquirido – com recurso captados pela Lei Rouanet – por um milhão de reais há alguns anos passados?

Essa história toda estou, na verdade, querendo-a narrar mais especificamente ao titular do Ministério Público Federal em Piracicaba, a quem cabe, pela lei 9.870, art.7, zelar pelo interesse público na questão das universidades confessionais. O que é, ainda, confessional e filantrópico na Unimep dos pentecostalistas? Está havendo um estelionato moral, um golpe do baú, de que Piracicaba é a maior das vítimas, pois foi esta terra, desde a chegada de Martha Watts, apoiou, aplaudiu e abraçou um ideário educacional e civilizatório. Os bens do IEP não foram adquiridos, não, apenas com dinheiro de missionárias dos Estados Unidos. São doações de piracicabanos, de barbarenses, sendo um exemplo admirável o das Irmãs Schalch, com doação testamentária de glebas depois leiloadas e transformadas até mesmo em propriedades particulares de lideranças metodistas. Essa história começou a cheirar mal desde os 1950. E Davi Barros, mesmo não conhecendo Nelson Freire, sabe disso.

Confesso, como cidadão piracicabano e jornalista, o meu espanto pela não intervenção do MEPF na UNIMEP, pela não punição aos desmandos dos metodistas, pela não apuração de desregramentos diante da legislação brasileira. Davi Barros está acreditando na impunidade e, de minha parte, eu me sinto cada vez mais otário. Pois sou, sim, também um dos crédulos nessa grande história do passado. Estou entre os primeiros – e agora com sensação de ter sido estúpido – professores daquela instituição, a começar pelo ECA, a lecionar sem nada receber, a lecionar para ajudar a construir, a participar de graça e por idealismo, sem saber que havia abutres também naquela igreja.Abrutes que dão crias geração após geração.

O Ministério Público Federal poderia, pelo menos, fazer um imenso favor à humanidade: impedir que as maluquices do Rei George – desculpem-me, confundi as coisas – digo, impedir que o Quixote ao contrário destrua a memória também de Nelson Freire. E que confunda Steinway com nome de banco inglês. Bom dia.

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