Em Santana e Santa Olímpia, “non passarán”

Fonte: www.santaolimpia.com.br/

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Os predadores de nossa história e cultura não estão percebendo. Aliás, nada percebem além de seus umbigos e apetites, nessa que pode ser considerada como a maior devastação cultural a que Piracicaba assistiu nestas últimas décadas. Não se trata de mudanças, que estas sempre existem, mas de uma forma brutal de, em nome de ganâncias econômicas insaciáveis, destruir todo um patrimônio cultural construído por homens e mulheres excepcionais.

Eles, os predadores, não percebem, mas começam a surgir reações, resistências, inconformismos, alavancados, especialmente, por uma juventude insatisfeita e ainda à deriva. Pensa-se que a juventude não sabe, ainda, o que deseja, mas isso é um terrível engano. Ao negarem-se a aceitar esse estilo de vida materialista e uma cidade assaltada em seu patrimônio moral e cultural, os jovens indicam que querem algo novo. E esse novo – que buscam até com uma nostalgia indefinida, a de querer o que não conheceram – está, justamente, na própria história piracicabana, num estilo de vida que construímos com uma singularidade especialíssima.

Volto a insistir: Piracicaba não está desenvolvendo-se e nem progredindo. Pois desenvolvimento e progresso têm uma fundamentação ética, objetivos nobres, construção de um nível harmônico na qualidade de vida de um povo. Piracicaba assiste a uma devastação de seus valores e, também, de seus espaços. A ganância imobiliária – aliada a projetos oficiais que atendem a seus apetites – colocou o lucro de alguns acima de benefícios pelos quais o povo clama: saúde, educação, segurança, formação humanística e não apenas de mão de obra qualificada ou de prestação de serviços. A economia há que estar – para ser moralmente digna – a serviço do homem. E não, como atualmente, o homem a serviço dela.

Santana e Santa Olímpia – e a especial vocação de Vila Rezende – são testemunhos de uma resistência a essa devastação geral. As populações destes conscientes espaços piracicabanos vivem para defender uma história. A herança trentina é mantida e já foi incorporada por Piracicaba. É uma história admirável, que começou em 1893 – portanto, há 110 anos – quando a família Vitti ( Ângelo e outros) adquiriu a fazenda que pertencia ao Barão de Serra Negra. Lá plantaram suas raízes e mantiveram tradições que deram, a Piracicaba, homens e mulheres notáveis, formadores, também, da cultura piracicabana. Hábitos, costumes, tradições, gastronomia, culinária, música, dança, arte, religiosidade, cultura – tudo se funde, enraizado em Santana e Santa Olímpia. São como árvores derramando frutos e sombras agradáveis sobre uma Piracicaba confusa e perplexa.

Na guerra civil espanhola (1936/39), uma mulher do povo, Dolores Ibarrúri – consagrada como “La Passionária” – deu um brado de resistência que contagiou o mundo: “Non passarán”. Era a reação contra a devastação. E completou: “Para viver de joelhos, é melhor morrer de pé.”  Esse grito – agora silencioso e pacífico – parece vir-nos de Santana e Santa Olímpia, no cuidado às suas tradições, à sua cultura, que são parte da história piracicabana. Eles, pelo exemplo e zelo, estão dizendo aos predadores: “Non passarán”. Piracicaba e os piracicabanos deveriam ouvi-los. Enquanto é tempo. Bom dia.

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