Futebol feminino

Fui daqueles que acreditavam fosse, o futebol, um jogo e um esporte apenas para homens. Sei lá se por ter jogado por toda a juventude, sempre vi o futebol como quase uma especialidade masculina pois, além de arte e técnica, exigia força física, condições atléticas, musculatura firme. O choque entre jogadores sempre foi ríspido, muitas vezes produzindo lesões graves. Ora, como a mulher – feminina, de corpo menos musculoso – poderia participar de um jogo com tal carga de violência, de choques, de força? Brincar com bola, até podia. Mas jogar, jogar, lá isso não, caramba!

Pois foi o que sempre pensei. Até, na verdade, há recentes anos. Pois, a pouco e pouco, vendo as moças jogarem pela televisão, comecei a ver maestrias e talentos que antes me escapavam. Acho que isso começou com a Pretinha, aquela antiga garota que, há alguns anos, nos encantou com seu virtuosismo e técnica. Eu mal acreditava no que via, as fintas, os chutes, os dribles, a intimidade que Pretinha tinha com a bola. Ora, ela era melhor do que muitos e muitos homens que disputavam campeonatos internacionais de futebol. Mas – pensei – deve ser exceção ou, sei lá, uma anomalia qualquer.

Pois bem. Se me perguntarem, hoje, quais os melhores craques de futebol em todo o mundo, não tenho dúvidas nem qualquer hesitação em responder que são duas moças, simplesmente fantásticas como jogadoras: Marta e Cristiane. Por mim, eu mudaria toda a legislação esportiva e permitira houvesse times mistos de futebol, moças e rapazes jogando no mesmo time, uns contra outros. Por que o Richarlison, do São Paulo, não pode jogar num time de mulheres? E por que Marta e Cristiane – com a magia de seus toques de bolas, de seus dribles, de sua capacidade de luta e de disputa – não podem, por exemplo, jogar no Corinthians, ao lado de Ronaldo Gorducho? Para mim, se colocarem Marta e Cristiane ao lado de Ronaldo, será ele, Ronaldo, o grande beneficiário. Ele não precisará mais correr, arrastar o corpanzil. Basta ficar ali, a uns metros da grande área, e esperar que Marta e Cristiane desmontem a defesa adversária e, na boca do gol, lhe passem a bola com açúcar e com afeto.

Assistindo ao jogo das brasileiras contra a China, ouvi comentários notáveis da Paula, nossa Magic Paula, esse fenômeno que sabe tudo de todos os esportes. Paula falou da elegância com que as moças “desfilam pelo campo”. Era isso mesmo: elas desfilam, elas distribuem elegância, com um futebol mágico que, em muitos aspectos, faz lembrar as diabruras de Pelé. Aqui entre nós: não sei, não, se essa fantástica Marta não é, depois de Pelé, o maior fenômeno futebolístico mundial. Em técnica, em rapidez de raciocínio, em recursos, em capacidade de inventar, de criar, de improvisar e de enlouquecer adversários.

Eis, pois, o que eu não esperava. Passei a estar na fila do gargarejo para ver as moças brasileiras jogando futebol. Afinal de contas, o Brasil está em fase tão auspiciosa que, também no futebol feminino, podemos dar lições ao mundo. Essas duas moças, Marta e Cristiane, deixam qualquer marmanjão macho de queixo caído com as bruxarias que fazem com a bola nos pés. E com muita graça. Bom dia.

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