Ter filhos

Uma revista semanal detectou a surpreendente nova tendência em parte do universo feminino: mulheres querendo ter três filhos. Até recentemente, elas – especialmente em cargos profissionais de responsabilidade – adiavam a maternidade ou se limitavam a um único filho. Agora, nota-se o início de uma reversão: muitas mulheres têm relegado a profissão a segundo plano para se dedicar mais à família e à procriação.

Há alguns anos, comecei a escrever – mais por desânimo do que por indignação – o que, para mim, seria a Utopia, a minha, não a do Thomas Morus. Seria, obviamente, um mundo e uma humanidade diferentes, tendo como referencial o estilo de vida materialista e brutalmente desumano a que fomos submetidos. Em meus delírios, inventei um mundo com leis mais severas, uma das quais dizia respeito ao direito de ter filhos. Naquela Utopia, esse não seria um direito natural, mas conquistado. Para tê-lo, seria preciso provar competência e capacidade. Ora, se, para dirigir um automóvel, as pessoas são obrigadas a exames de habilitação – por que devem ser inteiramente livres para ter filhos, essa responsabilidade imensurável?

Fazer filhos é uma das coisas boas da vida. Tê-lo, mantê-los, educá-los – essa é uma outra realidade para a qual nem todos os que fazem filhos estão preparados. Uma menina e um garoto, ainda na puberdade, podem gerar um filho. De um encontro ocasional entre homem e mulher – desconhecidos um para o outro – pode surgir um filho. Se a terra é fértil e boa a semente, o fruto vingará. Cuidar dele, no entanto, é uma outra história.

Mais do que filhos irresponsáveis, há pais irresponsáveis. Mais do que filhos incompetentes e desajustados, há pais desajustados e incompetentes. Por isso, em minha Utopia, o casal teria que se submeter a exames prévios quando se decidissem a gerar filhos. Se fossem tidos como incompetentes para a educação, estariam proibidos legalmente de ser pais. Se insistissem mesmo assim, os filhos seriam adotados pelo Estado, que cuidaria de sua educação. (Na minha Utopia, o Estado seria eficiente, humano e capaz.)

E mais: tendo filhos, o casal não poderia se separar antes que eles, os filhos, tivessem, no mínimo, 16 anos, essa idade que dá direito a voto. Se não mais se amassem, se vivessem às turras, se a vida de homem e mulher se tivesse tornado um inferno – esses seriam problemas deles, pessoais. Com filhos, teriam que aprender, mesmo a contragosto, a conviver. Depois, então, que até se matassem um ao outro, que isso não teria mais importância. Com filhos, eis uma verdade da Igreja à qual me rendo, o casamento é indissolúvel. Ninguém divide um filho em dois, a separação não extingue a paternidade ou a maternidade. Ter um, um único filho é responsabilidade absoluta pelo resto da vida. Logo, irresponsáveis não podem ter esse direito.

Quem quiser mudar o mundo, mude, primeiro, o homem. Para mudar o homem, comece-se pela família. Bom dia.

1 comentário

  1. Marcelo Vieira em 12/09/2012 às 16:25

    respondendo à pergunta do título: porque filhos e automóveis são coisas completamente diferentes.

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