E o homem mordeu o cão

De fim do mundo, disso ouço falar desde a meninice. Quando a bomba atômica aconteceu, previu-se o fim do mundo. Criançola ainda, esperei acontecesse, não aconteceu: o mundo não acabou. Mas não percebi que, então, houvera o fim de “um” mundo. De uma era. Alguns anos depois, meu pai sempre comentava de “fim de mundo”: biquíni, calças jeans, Beatles, rock, liberdade sexual. E era. O fim de um outro mundo. E assim tem acontecido, talvez, mesmo, de geração em geração. Com uma dificuldade: cada geração, agora, não completa dez anos.

Essas coisas, penso nelas   por ver-me, a mim mesmo, indagando-me sobre o nosso atual fim de mundo. Começou-se dizendo ser a Era da Comunicação. Foi e tem sido, na verdade, uma grande, enorme mistificação. Pode até ser que venha a acontecer, com as redes sociais, quando elas se solidificarem, deixando, então, de ser uma comunicação de banalidades. Ou, também, já dominadas por alguma forma de poder. A verdadeira comunicação exige um emissor, uma fonte, que tenha o seu receptor. Portanto, mão dupla. O emissor transmite, o receptor recebe; em seguida, o receptor, como resposta,  torna-se emissor e o primeiro emissor passa a ser receptor. E assim vai. Ou deveria ir. Porque não tem sido.

Se não  houver possibilidade de vínculo – ou dificuldades – entre emissor e receptor, não existe comunicação. Há fontes que divulgam mas, direcionadamente, conforme o nível do público alvo.  Dessa forma, a informação pode cobrir-se de suspeita, de inconfiabilidade e, acima de tudo, de desrespeito à população de ser informada. Nessas circunstâncias, é menos prejudicial, a uma pessoa, ser e estar desinformada, do que mal informada. O desinformado é vítima fácil de todos os poderes. O mal informado, porém, torna-se cúmplice involuntário das forças de controle, induzido e conduzido pela fonte emissora.

Logo – hoje, mais do que antes – há de se perguntar a respeito do que seja uma notícia. Anteriormente, havia um exemplo significativo: “Se o cão morder um homem, isso não é notícia. Mas, se o homem morder o cão, isso é notícia.” Notícia, pois, referia-se a algo novo, a uma novidade, àquilo que fugia ao cotidiano das pessoas.  Alguém mordendo cachorro, isso era algo novo. Era.

Guerras, violências, roubos, mortes, estupros, corrupção, ódios, desamores, assassínios, incivilidades – isso tudo não  mais é   notícia. De tão banal, de tão corriqueiro. Notícia seria um jovem ajudando a idosa a atravessar a rua;  crianças respeitando professores. Dar uma flor a alguém, eis uma bela notícia. De inusitado que se tornou.

Para mim, a prisão de ex-presidentes não é notícia, pois ocorrência prevista, esperada. Notícia, enfim, não é uma prisão, mas o funcionamento da Justiça. Uma boa nova. Desde, porém, que seja para todos.

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