“In Extremis” (178) – A Escola de Música não é mercadoria

Escola_de_Música_de_Piracicaba_Maestro_Ernst_Mahle

Escola de Música Maestro Ernst Mahle. (foto: reprodução Google)

Algumas lideranças da Igreja Metodista deveriam sentir-se moralmente obrigadas a dar satisfações antes de se desfazerem de patrimônios que nossa gente lhes cedeu. Faz parte de nossa história a magnífica obra de Miss Martha Watts e sua equipe na formação educacional promovida através do mais do que centenário Colégio Piracicabano. No entanto, muito pouco seria conseguido se não tivessem, aqueles pioneiros, o apoio firme, decidido e ousado dos Moraes Barros, especialmente Prudente e Manoel, líderes políticos de dimensão nacional.

A criação da Unimep não aconteceria sem o suporte fundamental que Piracicaba – e, depois, Santa Bárbara – efusivamente ofereceu às lideranças metodistas. Sou testemunha ainda viva disso e orgulho-me de ser parte do início dessa história. Explico-me: fui da primeira turma da ECA (Economia, Ciências Contábeis e Administração) e, honrosamente para mim, presidente do centro acadêmico inicial, o “Herrmann Júnior”. Tive o privilégio de escrever o início de toda aquela saga, no livro “Ousadia na Educação”. Participei da formidável luta de Edward Senn para instalar a universidade. E foram alunos pioneiros que ajudamos a contatar empresários que participassem da construção daquele sonho coletivo.

A Unimep deveria ser construída em parte das áreas hoje ocupadas pelo Shopping Piracicaba, amplo terreno cedido pelas famílias Dedini/Ometto. Depois, estrategicamente, foi transferida para a grande área onde se encontra, também doação das mesmas generosas famílias. E foram elas, também – com outros empresários locais – que financiaram quase toda a construção da nova universidade. Lembro-me claramente de como nós – alunos, mas também já empresários – visitávamos industriais e comerciantes para apoiarem o grande projeto.

Algumas lideranças da Igreja Metodista – de outras localidades – sempre quiseram intervir. Encontraram, porém, a resistência decidida de homens que zelavam pela autonomia da Universidade. Richard Senn, Elias Boaventura, Chrisantho César, Almir de Souza Maia, entre eles. Mas houve quem desejasse apenas “metodistizar” a universidade, optando mais por ser servidor da igreja do que reitor da instituição.

A notícia de o IEP colocar à venda o notável prédio da Escola de Música é um acinte, ofensa e agressão a Piracicaba e, em especial, a essas duas extraordinárias personalidades que são Ernst/Cidinha Mahle. É um desrespeito à história da Escola de Música – uma das mais respeitadas do Brasil, com admiração internacional – e a Piracicaba. É, também, uma questão de ordem moral. Que direito teria o IEP – mantenedor metodista – de vender tesouros que lhes foram cedidos para deles serem guardiões?

A Unimep não existiria não fossem o entusiasmo, o apoio, a estrutura material que Piracicaba lhe deu. O dr. Richard Senn reconhecia essa união piracicabana em torno da construção da universidade. E uma das razões está no fato histórico de Piracicaba ter criado, no passado distante, a revolucionária Universidade do Povo. Desde então, esse era o nosso sonho comum. Richard Senn, também pastor metodista, afirmava categoricamente: “A Unimep é maior do que a igreja”. E foram líderes religiosos que sempre insistiram para a universidade estar a serviço da igreja e não que fosse instituição autônoma.

Tentar vender as maravilhosas edificações da Escola de Música – que, com tanto amor, generosidade e às expensas próprias a família Mahle ergueu – é um desrespeito, ofensa e menosprezo que se fazem a todos nós. Mal agradecidos. E desrespeitosos. Ressuscitem Almir Maia!

Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG “In Extremis”.

1 comentário

  1. Antonia M. de A. Camargo em 31/08/2022 às 09:12

    Ótimo artigo !!!

Deixe uma resposta