“In Extremis” (229)  – Aconteceu e não tem volta

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“Haveria esperança para o retorno do verdadeiro, do bom e do belo?”
(imagem: Aakash Mally / Unsplash)

           Das emoções humanas, a esperança é uma das fundamentais. É aquele quase acreditar venha a realizar-se o desejado. De certa forma, trata-se de um aguardar. Por isso, esperar e esperançar assemelham-se em relação ao tempo. Há, pois, um tempo para aguardar a esperança se concretize. Ou não.

No entanto, quanto mais se vive, menos tempo resta para a expectativa de se realizarem algumas esperanças. Entusiasmamo-nos, por exemplo, quando o então grande escritor Stefan Zweig escreveu, na década de 1940, sermos “O País do Futuro”. Mas… Esse futuro ainda não chegou. A não ser para minorias encasteladas em sua indiferença social.

Eis que, novamente, fala-se em caos mundial, em fim do mundo. Mas, desde quando não se lamenta dessa loucura humana? Ao lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagazaki, iniciou-se o terror sob o qual ainda vive a humanidade. Por um tempo, o mundo tornou-se unipolar, sob comando e pressão dos Estados Unidos. Foi preciso a antiga União Soviética também armar para a bipolaridade equilibrar a sanha destruidora. Não se acredita haja um governante suficientemente maluco para apertar o botão e explodir o mundo. No entanto, há que se temer.

Ora, quando as bombas atômicas sobre o Japão foram lançadas, enfatizou-se que, a partir de então, não mais haveria guerras. Teria acontecido a dissuasão pelo medo. Até o medo do colapso universal, no entanto, passou a ser minimizado. Parece – ou é – o grande pecado da humanidade: a soberba.  O não aprender com sua própria história. Com seus erros e tragédias.

Na realidade, está acontecendo o que já se lamentara: “cegos dirigindo cegos”. E mudos que não ouvem nem mesmo pelo que até as pedras clamam. O que mais falta para aprendermos? Desde muito antes de Cristo, já se entendera a “regra de ouro” para a humanidade: “não fazer ao outro o que não deseja que lhe seja feito”. E fazer o que gostaria que se lhe fizesse a si mesmo. Cristãos, muçulmanos, judeus – povos monoteístas – promovem matanças em nome do quê? De quem?

Aconteceu, pois, muito do que já não mais tem retorno. Fascinamo-nos pelas conquistas tecnológicas e científicas. Estamos invadindo os espaços. Trilhões de dólares são disponibilizados para essa aventura que interessa a poucos. A muito poucos. Mas biliões de seres humanos não conseguem o mínimo necessário para se dizerem realmente humanos. No entanto, o que isso importa à meia dúzia de donos da economia mundial? Aos senhores da guerra?

Quando despontou a informática, no pós-guerra, aplaudimos os notáveis benefícios que nos traria. E ao surgir da internet, na década de 1960, deslumbramo-nos com a rapidez da informação. Mas não quisemos ver que informação não significa conhecimento. E nem, também, ouvimos os que já, também, anteviam os ônus. Estão lá, especialmente nas décadas de 1970/80, as advertências que não foram levadas a sério: o surgimento das sociedades de massa, a perda da individualidade, a robotização humana, a dependência quase absoluta das novas tecnologias.

E aconteceu o que apenas alguns – cientistas, mas tachados de poetas – haviam previsto. A automatização, que prometera uma era do lazer, criou desempregos sem fim; a abundância anunciada revelou-se miséria e penúria em quase todo o Ocidente e no ainda considerado Terceiro Mundo; a promessa de que a máquina iria “pensar por nós mesmos” já criou o atrofiamento de memórias, da capacidade de avaliar e de criar. Multidões – especialmente de jovens – estão sendo consideradas débeis mentais eficazes.

Haveria esperança para o retorno do verdadeiro, do bom e do belo?

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