Amigos do Rei.

Em tempos de interação em quase todas as áreas humanas, o advento da internet não apenas democratizou a comunicação, como forçou os veículos impressos a se abrirem cada vez mais a leitores permanentes ou ocasionais. Não raro, são exatamente leitores alguns dos principais responsáveis por pautas importantes da imprensa. Mesmo que parte dela queira calar-se ou manter-se à distância – renunciando, por comprometimento, a seu papel analítico – leitores forçam manifestações, como que obrigando-as moralmente a tomadas de posição.

Vai-se tornando, pois, cada vez mais difícil camuflar o leitor, sonegar informações, manter as famigeradas listas negras das redações ou o “index prohibitorum” de assuntos. Para impor censuras, certa imprensa corre, hoje, o risco da desmoralização mais rápida, pois a notícia ou a informação censuradas ou omitidas passam, rapidamente, a ser assunto da internet, na multidão de blogs, de jornais eletrônicos, de comunidades virtuais.

Há poucos dias, num dos jornais impressos da cidade, o leitor Ângelo Moreira escreveu um libelo contra o prefeito Barjas Negri que merece ser reproduzido, pois retrata o clima de agrupamentos especiais que paira sobre Piracicaba. Escreveu o leitor:

“É lamentável o que ocorre em frente a um conhecido bar na avenida Carlos Botelho. Além de ocuparem toda a calçada que lhe pertence (não é mais de pedestre), ocupam as calçadas ao lado, e quando vamos reclamar ainda temos que escutar que são “amigos do prefeito”! e por isso nenhuma providência será tomada. Liguei para o Pelotão Ambiental e disseram que não poderiam tomar nenhuma providência, pois no dia reclamado lá no bar estavam alguns representantes de nossa sociedade e tinham medo de tomar providências. Prefeito Barjas Negri, fui seu eleitor será que em troca da confiança em você depositada alguma providência será tomada?”

Confirma-se o que políticos e jornalistas que acompanharam a trajetória de Barjas Negri sabem dele: competente mas não confiável. Ele está sob suspeição há muito tempo, ainda que o grosso da população não o soubesse. No entanto, as suas chamadas “relações perigosas” estão desnudando cada vez mais o candidato a rei. Enquanto isso, os beneficiários são exatamente os “amigos do rei”. Que formam grupos especiais e que estão em pontos estratégicos quer na administração, quer em relações com a comunidade.

Política, no seu sentido menos nobre, é vista como uma relação amigo/inimigo. Políticos menos nobres usam esse conceito de forma imoral diante dos preceitos democráticos e republicanos: “para os amigos tudo, para o inimigo nada.” Com Getúlio Vargas, pelo menos havia “para o inimigo, a lei.” Ora, não se engana a todos todo o tempo. A muitos, pouco tempo, sim. A poucos, muito tempo, também.

E o tempo está passando.

Deixe uma resposta