Macunaíma vive.

Mário de Andrade nunca supôs que seu “Macunaíma” – obra do final da década de 1920 – iria tornar-se símbolo de uma malandragem que os mais céticos insistem em dizer seja nacional. O “herói sem nenhum caráter”, o índio Macunaíma, persiste e sobrevive em tudo o que diga respeito a amoralidades e imoralidades nacionais. A memória de Macunaíma, permanecendo viva, permite, pelo menos, a discussão em torno do caráter nacional. Temos algum? Qual?

Se depender de enquetes que se multiplicam em quase todos os órgãos eletrônicos – até mesmo no sentido de interação entre transmissor e receptor – a situação é mais grave do que pensamos. Os que votam nas enquetes parecem dispostos a defender o bandido. Há respostas imediatas e, portanto, sem grandes reflexões. Uma rede de televisão, por exemplo, propôs, em enquete, que as pessoas se dissessem a favor ou contra a pirataria de vídeos, CDs, etc. Uma última avaliação de votos – ainda na sexta-feira à noite – mostrou que Macunaíma vive, que o “herói sem nenhum caráter” no espírito de grande parte das pessoas, como a “lei de Gerson”, o jeitinho, a malandragem. Pois, enquanto 31% dos votantes se declararam contrários à pirataria, a espantosa maioria de 61% votava a favor de comprar produtos pirateados. Ou seja: ladrões e receptadores estão de mãos dadas.

Isso, talvez, possa explicar o cinismo e a deformada noção de moralidade na atual administração municipal de Piracicaba. O desrespeito à lei, às regras, à ética é tão óbvio e flagrante que deixa espantadas as pessoas de bem. A Secretária de Educação, Giselda Ercolin, e o Prefeito Barjas Negri talvez pudessem estar incluídos entre os 61% de votantes a favor de pirataria, de roubo a direitos autorais, de aproveitamento escuso de trabalhos alheios. Pois Giselda Ercolin continua sendo Secretária da Educação, mantida por Barjas Negri, apesar de ter sido condenada em primeira instância por “pirataria de obra alheia” – publicando, com dinheiro do Estado, livro com plágios escandalosos – indiciada em inquérito policial e denunciada pelo Ministério Público como ré em processo de pirataria intelectual. Giselda e Abel Pereira parecem significados e significantes de uma administração.

Como pode uma administração – justamente na área sagrada da Educação – patrocinar e manter tal imoralidade? Ora, isso se explica pela confirmação de que Macunaíma está vivo. Mas tolice é imaginar o contrário, quando se vê que até em igrejas e universidades Macunaíma é referencial.

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