Séquito dos santos dos últimos dias.

Com Davi Barros, a facção dominante da Igreja Metodista encontrou o representante que lhe faltava. Não, talvez, por competência para desenvolver grandes e novos projetos na área educacional, especialmente a universitária. Mas para cumprir planos, para executar estratégias e para simular e dissimular técnicas. O objetivo da facção dominante dos metodistas – que se apoderou também da Unimep – se resume, em síntese final, a lucro. E ter lucros não é um mal. O mal está na maneira de obtê-los ou nos instrumentos que se usam, pois alguns há moralmente condenáveis em relação ao lucro financeiro. Igrejas, por exemplo. Elas têm de sobreviver, mas se tornam instrumentos imorais quando usadas apenas para ganhar dinheiro.

Membros da Igreja Metodista têm revelado, há muito tempo, o desinteresse pela educação, alegando até mesmo em concílios e em congressos que, como igreja, ela não deveria ser mantenedora de instituições universitárias. Para alguns, não deveria sequer ter escolas, envolver-se com educação formal. A crise de 1985, na Unimep, teve essa mentalidade como raiz. Na verdade, a destruição da Universidade é um propósito de muitos metodistas, que voltaram a se arregimentar, de maneira mais visível, após a vitória de maiorias pentecostais, com formação fundamentalista.

Nos últimos tempos, o mesmo discurso se repete, agora com um pragmatismo escancarado: a Universidade tem que dar lucro. E, como se sabe, nesse espírito neoliberal, o lucro não tem moralidade alguma, a não ser a sua moralidade própria: lucro é lucro. Nesse sentido, a diminuição de custos passa a ser necessidade essencial, não importa se afete a qualidade, a tradição, o nome e até mesmo a honra de uma história feita de sacrifícios, de lutas, de ideais e de um espírito missionário. Lucro é lucro. Que, portanto, se dispensem os mais talentosos professores, que, exagtamente por serem talentosos e capazes, têm os melhores salários.

Em todas as universidades sérias e decentes, há o honesto e legítimo orgulho de se falar que os professores são remunerados com altos e justos salários. O patrimônio de uma universidade não são os seus bens físicos, as suas propriedades, mesmo que se saiba, no caso da Unimep, que as propriedades nascem, quase todas, da generosidade das comunidades que a acolheu. O patrimônio de uma universidade está na sua herança cultural, no saber, na história e na soma de conhecimentos que têm a oferecer, na excelência de seu ensino, na qualidade de suas pesquisas, na consciência de sua extensão. A “nova Unimep” desse “novo Metodismo” aboliu os princípios para se apegar a valores também novos, no sentido desse novo mercado, que assume papel de “deus ex-machina”, senhor todo-poderoso para destruir raízes e abalar alicerces.

A palavra latina “sequor” ajuda a entender o que está acontecendo. “Sequor”, produzindo seus efeitos: seita, sectários, seguidores, séqüito. Há, na Unimep, um séqüito de Davi, seguidores de sua seita, sectários de uma religião mercantilizada. E o que se vê, de maneira melancólica – que ofende pudores intelectuais, que humilha a dignidade acadêmica – é um Davi Barros transformado em camelô de um projeto enganoso, o que se aproveita do nome de uma universidade e das vantagens legais da confessionalidade, para vender produto falso. Davi Barros vai à Associação Comercial, a redações de jornais, a emissoras de rádio e de tevê cada vez mais como um mercador de baús da felicidade do que reitor de uma universidade ou diretor geral de uma instituição com história tão digna e séria.

Há uma questão de ordem profundamente moral nessa desconstrução dos sectários metodistas em relação à Universidade que é, também ou especialmente, de Piracicaba. Não há mais compromisso com o ensino de excelência, muito menos com a pesquisa e se desmonta o que foi elaborado em nível de extensão. Tenta-se criar um colegião sem se lhe dar nome de colégio, um conglomerado de faculdades e, agora, de cursos também técnicos, mas sem admitir a perda da qualidade. E, pior ainda, usa-se dos privilégios da confessionalidade para impor uma filosofia mercantilista. Enganam-se os alunos e a população, engana-se também o governo. O caso é de Polícia Federal que, aliás, já conhece Davi Barros.

Faz um ano dessa “nova universidade”. O reitor se tornou camelô de produto falso. O diretor geral dirige um empreendimento mercantil. E o séquito de sectários dessa nova seita não percebe tornarem-se, eles próprios, uma “igreja dos santos dos últimos dias”.

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