Dança partidária e disfarce.

Com toda certeza, vivemos – e os meios de comunicação parecem estimulá-la – uma realidade feita de farsas e de cinismos galopantes, se entender cinismo pelo conceito vulgar que lhe foi dado. Todos mentem para todos. E, assim, vive-se relativamente em paz, cada qual fingindo acreditar na ficção coletiva.

Quando se vê, por exemplo, a indignação quase catártica que políticos do PSDB e do atual DEM, ainda vivo PFL, manifestam a respeito de qualquer irregularidade descoberta ou insinuada junto ao governo federal, não se pode mais levar a sério um país em que os meios de comunicação perderam, também, o senso de medidas, de verdadeiro e de mentiroso e, portanto, de certo e de errado. Nunca, como agora, o evangélico – em tempos de tantos evangélicos, que de boa nova dizem tão pouco – “ver o cisco no olho do vizinho e não ver a trave no próprio olho” parece ter sido tão apropriado.

Não nos cansaremos de ridicularizar os que, em Piracicaba, vêem – em comentários pela imprensa, por rádio e outros meios de comunicação – os ciscos no olho do governo federal e não vêem o que acontece em nossa terra, o escândalo de pusilanimidade que começa a clamar aos céus. Que direito, por exemplo, vereadores que apoiam tão servilmente o Executivo municipal têm de fazer qualquer manifestação crítica ao governo federal? Como falar em corrupção, se, aqui, não se apura nada? Como falar em poluição ambiental, em aquecimento global, em ecologia – se o poder público está apalermando diante da poluição visual e sonora em Piracicaba, com patrocínio da própria Prefeitura? E a poluição, a degradação moral nos meios político-partidários?

Ora, a atual discussão sobre a fidelidade partidária é, antes de mais nada, uma farsa, um disfarce grotesco. Não se pode falar em fidelidade partidária se, antes, não se estabelecer a verdade partidária, a seriedade do significado e do sentido de partidos políticos. E o Brasil não quer formar tradição partidária, como se fosse maldição histórica ou conveniência dos feudos que ainda permanecem vivos ou das capitanias hereditárias ainda existentes em todos os setores da vida pública.

No Brasil, vota-se, ainda, em pessoas. E conforme a geografia. Vota-se por simpatia, por interesse, por compra e venda, por convicção, por parentesco, por amizade e, também, por convicção. A dança partidária dos políticos é um sintoma, não a doença. Uma simples reforma partidária, apenas com pinceladas políticas não resolve nada. O Brasil – e parece mentira continuar-se falando disso – está à espera da reforma moral, de uma grande, profunda revolução moral. É o pressuposto. Sem consciência moral, não há nação que sobreviva. Muito menos uma cidade.

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