A abelha

Todas as manhãs – como num ritual – acendo velas. Ao Criador,  no qual acredito. Ora, como é possível questionar ou negar a existência de uma entidade superior, ontológica? Não importa os nomes que se lhe deem  as mais diferenciadas civilizadas. Sei ser suficientemente burro para acreditar. Pois apenas os burros têm noção da pequenez de sua própria inteligência.

Sou, pois, acendedor de velas. Um homem que rende graças. Imagino – com horror! – se eu não tivesse nascido! Como, não nascer? Não conhecer o milagre da vida, da existência, mistérios do que existe, a oportunidade de partilhar maravilhas inimagináveis? Ah! se eu não tivesse nascido?  Mas, nasci. E vivi. E ainda vivo. E assombrosamente, sobrevivi! Ainda estou aqui. Não querendo ir-me.  Nem tão já. Nem nunca. (Sonhar faz bem…)

Tenho, hoje, plena convicção do “eterno retorno”. O homem envelhece e – se tiver um mínimo de sabedoria – eis que faz o retorno. Devagarinho, parecendo-lhe rever  um filme de trás para frente. E, finalmente, volta a ser criança, como se obtivesse a graça de purificar-se a si mesmo. Vem acontecendo em mim, comigo. E o retorno me leva às origens, à terra. À natureza de que somos parte e não, como julgamos, senhores e reis.

Retornou-me a curiosidade de olhar, ver e enxergar, de contemplar. De ouvir e de escutar. De, agora, sentir mais na alma do que no corpo. E vejo a aranha construindo sua teia, artista inigualável. A borboleta voando. E as abelhas… Feliz fiquei, noite dessas, quando – deitado, luz apagada – ouvi o zunir da abelhinha em meu quarto. Ela voou, voou, zuniu, zuniu. Não me movi e ela, mansamente, pousou-me nos cabelos. Quietinha, também. E dormimos assim. Ela foi eu; eu fui ela.

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