“Vende-se minhoca”: existe isso em algum outro lugar do mundo?

O texto abaixo foi publicado em novembro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Lázara, vendedora de minhocas na Rua do Porto

“Vende-se minhocas”, com o erro de concordância habitual, a frase já integra a tradição da rua do Porto. As placas indicando os poucos locais onde o turista pode conseguir vara, anzol e minhocas podem ser vistas de longe. “Aqui vem gente de tudo quanto é lugar. Vem gente importante” — diz Lázara Sales ao mostrar em um quarto de terra batida várias bacias (dessas de alumínio) cheias de terra com minhocas.

Há mais de dez anos que seu marido Luís vende minhocas. Ele as pega de lodo e hortas.

Acabou passando o ofício aos dois filhos que, hoje, cuidam dos negócios e dão até assistência àqueles supostos pescadores que não sabem como colocar a isca no anzol.

“Minhoca não pode faltá por aqui. Faz parte da vida do rio” — diz dona Lázara. A venda é boa mesmo quando o rio está com uma vazão alta, em época de cheia. Daí, todo mundo resolve ir até à beira do rio arriscar uma pesca”.

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Na casa de dona Lázara, as minhocas são vendidas em porção. Uma latinha custa Cz$ 50,00, mas dá para passar o dia pescando. “Quem gosta de pescá? Ah! home e mulher. Tem dia que ferve de muierada por aqui” — diz Luís, um dos filhos de Lázara. E mostra que existem dois tipos de minhocas: a brava e a mansa. A brava é escura, é maior e pula mais. A mansa é menor e vermelha. E tem mais: segundo Luís, com cada minhoca brava dá prá pegar até cinco peixes, claro, dependendo do pescador.

“Aqui vem até estrangeiro. Até explicar prá eles como se faz prá pescar demora”, conta dona Lázara. Luís, que está ao lado ri, ao lembrar de um caso. Um homem e uma mulher foram pescar de sondar (uma linha comprida e um anzol em uma das pontas) e conseguiram pegar o mesmo peixe. “Os dois fizeram gol juntos” — diz, rindo. Discutiram e, segundo Luís, acabaram cortando o peixe ao meio para acabar com a briga.

Além de vender as minhocas, as varas e ensinar o turista a colocar a isca no anzol, Luís acompanha aquelas pessoas que não acreditam que se consegue pescar no Piracicaba. E fica lá, beira rio, até que o turista consiga pegar um peixinho.

A boa pinguinha

Numa das mesas encostada em um dos cantos do quartinho onde guarda as minhocas, estão um garrafão de pinga e uma caneca de alumínio. Numa placa enorme, que é colocada nos finais de semana na rua, está o convite para que o pescador experiente, graciosamente, uma pinga trazida de Minas. “Esta é das boas” — diz Luís, mostrando o garrafão que já está vazio. A pinguinha faz sucesso. “Tem gente que vem aqui comprar um anzolzinho de um cruzado e só prá beber pinga” — afirma Lázara.

O movimento é grande, principalmente nos finais de semana e feriados, mas só vender minhocas “não dá prá sobreviver”, como afirma dona Lázara. Por isso, eles vendem peixes também. Frequentemente, seus dois filhos vão para o rio cedinho pescar. Retornam  por volta das 11 horas, trazendo quilos de peixes. A venda é imediata. “O que pega, vende” – diz Luís.

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Encostado à casa de dona Lázara, uma placa indica um outro local de vendas de minhocas. Só que lá o moço vende minhocas por dúzia. Sério! Só falta ele promover uma liquidação: “pague 12 e leve 13”. Mas, por via das dúvidas, o negócio é comprar minhocas lá na casa de dona Lázara e experimentar a pinguinha mineira, uai!

 

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