O percurso folclórico de João Chiarini (1942/1959)

Entre as inúmeras atividades culturais de João Chiarini, aquela em que ele pontificou, tornando-se reconhecido como um dos maiores “experts” do País, foi o Folclore. Nas anotações recolhidas em documentos inéditos, João Chiarini fez registros que vão de 1942 a 1959. Durante toda a sua vida, desde 1942, Chiarini ocupou espaços na imprensa e rádios locais, quase que diariamente, escrevendo e discorrendo sobre as nossas artes e tradições populares. São as informações que fornecemos a seguir:

1- Em 1942, Chiarini iniciou o agrupamento dos violeiros, modinheiros, modistas de viola, catireiros, etc e tal, que se encontravam isolados na vasta região da Média Sorocabana;

2- Começou a apresentação dos grupos de demonstrações folclóricas em Piracicaba, depois em outras cidades, para intelectuais em geral, objetivando despertar-lhes o interesse pelo folclore;

3- Em 1943, restaurou, em Piracicaba, a pureza e a autenticidade da “Festa do Divino”, que havia sido sofisticada intencionalmente. O mesmo ocorreu, em busca da pureza folclórica, na I Festa do Peixe (outubro de 1966), e nas duas outras que aconteceram respectivamente em janeiro e dezembro de 1967. O mesmo aconteceu com a “Folia”, que percorria a Avenida Beira Rio Joaquim Miguel Dutra, e o Concurso de Cuscuz(1967). Muitas e grandes festanças foram apresentadas na quadra do Clube de Regatas de Piracicaba, tais como: batuque, cana-verde, cateretê, cururu, congada, decima, desafio, moda de viola, samba-desafio, samba-lenço, samba-roda, além de quimbandas e umbandas que eram registradas pelo figureiro Geraldo Albertine em peças de argila;

4- João Chiarini, até os anos 70, promovia a vinda de pesquisadores, cinegrafistas, fotógrafos que documentavam o folclore da região, que, depois de diluído por muitos anos, pareceu recuperado;

5- No dia 30 de maio de 1945, ele criou o “Centro de Folclore de Piracicaba”, declarado de utilidade pública pela Lei nº303, de 9 de junho de 1949, do Governo do Estado de São Paulo; a entidade passou, pelo menos até 1969, a manter intercâmbios culturais, inclusive em nível internacional;

6- Em 1946, Chiarini fez várias tentativas para recuperar o caiapó (ou cabocolinho), o vilão da mala e o vilão do chapéu — cuja recuperação havia sido tentada em 1913 e em 1915 — não encontrando as melodias, porém. (V. sobre caiapó e vilão da mala e do chapéu, logo abaixo.) 

7- Ainda em 1946, João Chiarini preparou a monografia “Cururu”, que obteve o 2º prêmio, no I Concurso de Monografias do Folclore Musical Brasileiro, da “Discoteca Pública Municipal, da Prefeitura Municipal de São Paulo. A obra consta do Vol.CV, da Revista do Arquivo Municipal-SP, tendo-se esgotado a separata em 1947;

8- O jornal “A Gazeta”, de São Paulo, abriu espaços para Chiarini escrever sobre folclore a partir de agosto de 1948 ate 1951.

9- Em 1949, realizou notável exposição em São Paulo, no Parque da Água Branca, que durou sessenta dias. Foi a “Feira Folclórica”, com cerca de seis mil implementos expostos, destacando-se o museu ergológico, a cozinha folclórica, a discoteca, a filmoteca, a hemeroteca, a mapoteca, com valores regionais, a partir do Centro de Folclore de Piracicaba.

10- A partir de 1950, o nome de João Chiarini passou a figurar na bio-bibliografia folclórica brasileira e do exterior, vindo a ser incluído, na década de 60, entre os autores de obras tradicionalistas.

11- Ainda em 1951, Chiarini era membro de 11 entidades folclóricas congêneres existentes no Brasil e de 78 outras do estrangeiro, alusivas ao folclore, à tradição, à música, à museografia, à museologia, americanistas e afins, participações documentadas com medalhas e diplomas.

12- Até 1952, havia realizado mais de 700 palestras, devendo-se notar que — não pertencendo a entidades como Rotary e Lions clubes — foi, nesses clubes de serviço, quem mais falou sobre folclore.

13- Planejou e foi presidente do I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, realizado em Salvador, Bahia, em julho de 1955.

14- Até 1955, Chiarini tinha publicado, na imprensa interiorana e na das capitais, mais de 3.200 artigos sobre folclore;

15- Entre muitos trabalhos, preparou e escreveu “Anatomia da Viola”, “Festa do Divino em Piracicaba”, “Folclore de Piracicaba”, dois volumes, monografias elaboradas em 1956; e o livro de poemas, “Argamassa”, publicado postumamente.

16- Em 1956, participou do programa de maior audiência da televisão brasileira, na época, “O Céu é o Limite”, respondendo, durante três meses, a perguntas sobre folclore, com repercussão nacional.

17- Foi convidado especial, de 1955 a 1958, do Festival de Folclore Hispano-Americano, em Cáceres, na Espanha.

18- Em 1º de fevereiro de 1959, organizo a Festa da Uva de Jundiaí, levando 190 figuras para o desfile folclórico, a partir do Centro de Folclore de Piracicaba, apresentando todas as “festanças” regionais.

19- Por seus métodos folclóricos, havia recebido, até 1959, a Medalha “Marechal Rondon”(Sociedade Geográfica Brasileira) e a “Imperatriz Leopoldina”, além de diploma de sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

 Caiapó vilão da mala e vilão do lenço,

 Tradições que Chiarini não recuperou

Em suas anotações, João Chiarini lamenta-se de não ter conseguido recuperar ou resgatar algumas tradições folclóricas piracicabanas e regionais, pertencentes ao Século XIX. Entre elas, o caiapó o vilão da mala, o vilão do chapéu e do lenço, manifestações estranhas a este nosso final de século. Foram tradições folclóricas sobre as quais, à guisa de informação e curiosidade, passamos a discorrer, apoiados em estudos do próprio João Chiarini. A seguir:

Caiapó – Ou “cabocolinho”, como foi conhecido no Nordeste brasileiro. Trata-se de uma dança dramática da qual participavam grupos de homens, vestidos de índios. (Piracicaba foi habitada, ao tempo da povoação, por caiapós e paiaguás.) Na dança, usavam-se, apenas, instrumentos de percussão: tambor, pandeiro, caixa, reco-reco. O caiapó ocorria, em nossa região, sempre nas festas de Natividade, Reis, do Divino e no Sábado de Aleluia.

Vilão – Um baile popular. Em São Paulo, é conhecido como “vilão de lenço” e “vilão de chapéu”. Trata-se de um tipo de fandango. O violeiro fica fora da roda e, com lenços e chapéus os dançantes executam passos e gestos cômicos. Os casais passam sob arcadas de lenços, ocupando, a um sinal do violeiro.

1 comentário

  1. AMELIA SEGHESI FOGAÇA em 22/04/2014 às 19:28

    Trabalhei com ele e sempre admirei seu senso de pesquisador! Muito apoiado pela esposa e companheira, Dona Tita, concluiu muitas pesquisas e documentou inúmeros fatos folclóricos e antropológicos. É de sua autoria o estudo sobre a fala de Piracicaba como “caipiracicabanos”, tendo como estudo uma literatura própria. Surgiu daí o famoso livro de Cecílio Elias Neto .

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