A formação do povo piracicabano

Pouso do Sertão, Aurélio Zimmerman, desenho original de Hércules Florence (1804 1879)

Piracicaba completa, hoje, 245 anos. São mais de dois séculos de história, tradição e cultura.  Em 1767, Piracicaba era um simples povoado instalado à beira do rio; hoje é uma grande cidade com destaque nacional e internacional. Seu maior trunfo: “sua gente”. Pessoas que por aqui foram chegando, apaixonando-se e fizeram sua morada. Quem são essas pessoas que contribuíram para a criação e o desenvolvimento da cidade?

Desde 1693, há registros da movimentação de grupos humanos na região. Quem mora na cidade hoje não imagina que há mais de 250 anos os primeiros habitantes dessas terras eram os ferozes índios Paiaguás. Em 1730, uma expedição foi trucidada por “oitocentos índios em 80 canoas”, conforme relato de Mario Neme a partir dos registros de Paulo Setúbal, em “Ouro de Cuiabá”. De 1730 a 1800, colonizadores e expedicionários de São Paulo, após tantos massacres, praticamente dizimaram os índios. No entanto, a presença indígena nos costumes, hábitos e linguagem permaneceu.

Jean Baptiste Debret – Soldados e índios

Em 1767, Antonio Correia Barbosa, dando cumprimentos às ordens recebidas pelo governador da Província de São Paulo (D. Luiz Antonio de Souza Botelho e Mourão), funda oficialmente a Povoação de Piracicaba, nas imediações do Salto, onde já se achavam estabelecidos numerosos sertanejos com ranchos e roçados, com suas hortas e pomares. E, para engrossar a população de moradores da nova povoação foram arrebanhados, vadios, dispersos, vagabundos, presos e gente que por sua má conduta não eram mais úteis nos lugares de sua origem. Ficou a cargo do povoador auxiliar os homens com alguns mantimentos, ferramentas e ensinar-lhes os serviços que deviam fazer pelo bem da povoação. Com essa conduta e boa atividade era esperado que a povoação prosperasse, e prosperou.

Informe de 1786, sobre o princípio da Povoação de Piracicaba. Acervo Câmara de Vereadores de Piracicaba

O negro também está presente em Piracicaba com a mesma sina e vivendo a mesma saga desde sua chegada no Brasil. Desde tempos de Vila, as referências aos escravos negros são constantes. Vitimas de grande violência, castigos e prisões, muitos fugiam e buscavam abrigo nos quilombos. Há registros de época que sinalizam a existência de um quilombo nas cabeceiras do Rio Corumbataí (hoje região de Santa Terezinha). No ano de 1887, momentos antes da Abolição da Escravidão no Brasil, o “Almanak Comercial de São Paulo” publicava as cidades paulistas com maior número de escravos. Piracicaba era a terceira, com 5.663 escravos, após Campinas (15.427) e Bananal (6.903). A presença do negro e o legado dessa época ainda estão presentes, a Sociedade Beneficente 13 de Maio é uma das principais entidades negras do Brasil.

Engenho de Cana – Hercule Florence (1840)

Na segunda metade do século XIX, através de um projeto de imigração, o Brasil começou a receber grande número de estrangeiros. Os italianos, espanhóis, alemães, japoneses, árabes e judeus descobrem Piracicaba. Muitos vieram para trabalhar na atividade agrícola, outros encontraram caminho no comércio e na indústria. A chegada dos imigrantes estrangeiros em Piracicaba constituiu-se um marco para o desenvolvimento econômico local e regional. Pequenas oficinas transformaram-se em grandes indústrias. E se a intenção dos imigrantes era acumular riqueza e voltar ao seu país, o amor a terra e ao trabalho fizeram com que aqui fincassem suas raízes.

Corte de cana – Final do século XIX início do século XX. Álbum Vistas de São Paulo – Arquivo do Estado de SP

E para completar o DNA do povo Piracicabano, os próprios brasileiros descobriram Piracicaba. Segundo dados do IBGE sobre migração por local de origem, até o ano 2000, depois de São Paulo, o mineiros constituem o maior número de imigrantes que Piracicaba recebeu, seguido dos paranaenses, baianos e pernambucanos.

É interessante notar que, independente da origem, se nacional ou estrangeira, quem aqui chega é sempre muito bem recebido. Piracicaba tem fama de cidade acolhedora. E quem aqui chega traz consigo o mesmo sonho de quem chegou há 100, 200 anos atrás, o sonho de trabalhar, construir e prosperar com qualidade de vida. Se Piracicaba tem no seu DNA a marca de tantos povos é porque aqui a terra é mais que fértil, é uma cidade de oportunidades.

Cultura de legumes em Piracicaba. Álbum Vistas de São Paulo. Arquivo do Estado de SP.

Qual o segredo de Piracicaba? – O Seu povo, que apaixonado pelos encantos da cidade procura dar a ela sempre o seu melhor. Definição de Piracicabano – Povo Apaixonado por Piracicaba.

18 comentários

  1. nilton sanches em 14/08/2012 às 17:28

    Judeus ? Sinceramente, não acho que tenham importância quantitativa ou qualitativa. São reduzidíssimos! Os árabes só chegaram em meados do século XX. Também não têm tanta presença, embora possuam muita visibilidade em razão das atividades que exerciam e exercem.

    Portugueses, italianos, espanhóis e negros são, disparadamente, os mais importantes. Depois, léguas atrás, japoneses, alemães, árabes etc.

    • Fábio Bragança em 16/08/2012 às 14:56

      Caro Nilton Sanches, agradeço a leitura do meu artigo e o comentário. Em resposta, quero prestar alguns esclarecimentos e colocar à sua disposição alguns dados referentes ao tema, bem como e a sugestão de algumas obras que poderão ajudá-lo a expandir os conhecimentos sobre a história de Piracicaba.

      O artigo “A formação do povo piracicabano” apresenta ao leitor, de forma cronológica, os tipos humanos que chegaram à Piracicaba desde a sua fundação. Quanto aos imigrantes estrangeiros, alguns grupos são mais numerosos, outros menos, porém todos possuem sua importância, sem correr ao erro de qualificar.

      Sobre alguns desses grupos de imigrantes, aqui vão algumas referências: A Colônia do Senador Vergueiro, na Fazenda de Ibicaba, passou a receber alemães, suíços e belgas a partir de 1847. Em, 1857, um relatório enviado a Assembléia Provincial pelo presidente Fernandes Torres, mostra a existência de 25 colônias estrangeiras estabelecidas no estado. Destas, além da existente na Fazenda Ibicaba, com 51 famílias alemãs, 68 famílias Suíças, 55 famílias portuguesas e 3 famílias belgas, várias outras mostravam a presença de estrangeiros na região. Nem só da lavoura ou do comércio viviam os estrangeiros. Muitos exerceram funções de capitalista, industrial e proprietária – as famílias, dentre outras, Diehl, Priester, Krahenbühl, Stein, Schimidt, Laubenrstein, Morbach, Portz, Eschor e Koch. Na fazenda Pau D’Alho, famílias japonesas criaram, em 1920, a primeira associação japonesa de Piracicaba. A história deixada pelo livro “Brasileiros sem perder a coragem”, registra que, até 1930, 72 famílias japonesas haviam passado pela fazenda Pau D’Alho. O Jornal Gazeta de 1888, traz registros da presença de turcos na cidade e, em 1902, foi criada a Sociedade Beneficente Síria, com 28 membros, que teve como primeiro presidente Manoel Elias Zina. Mais tarde a sociedade passou a denominar-se Sociedade Beneficente Sírio Libanesa.

      Até entendo o seu questionamento, mas não podemos apenas colocar na balança as maiores correntes migratórias, as chamadas “clássicas”. Como historiador não posso deixar de contemplar outros grupos migratórios que fogem do conhecimento padrão da maioria.

      Sugestões de Leitura
      Almanaque 2000 Piracicaba
      A vila e seus vilões
      Na trilha do passado paulista – fazendas, engenhos e usinas
      A síntese urbana
      Brasileiros sem perder a coragem
      História de Piracicaba em Quadrinhos, Vol. I e II.

      • Geraldo Arruda em 05/09/2012 às 10:09

        Bom dia, Fabio!
        Onde posso encontrar a literatura citada?

        • Fábio Bragança em 05/09/2012 às 11:08

          Geraldo, bom dia! Grande parte da literatura sobre a história de Piracicaba está disponível na biblioteca municipal e na biblioteca da Unimep.

      • Agamenon Hai Mendel em 06/02/2018 às 16:03

        Gostaria de participar desse debate dizendo que sim, judeus de alguma forma contribuiram na formação na formação de boa parte do interior paulista e muitos emigraram para o Brasil usando provenientes de países europeus mas sem manter suas culturas. Basta ver que os nomes citados por Fábio Bragança, são nomes tipicamentes judaicos. Familia Koch é uma variação do Hebraico Cohen que significa Sacerdote. Koch em alemão significa cozinheiro, e os sacerdotes atuavam no Templo de Jerusalem como cozinheiros (todo animal abatido ali era consumido e precisava de cuidados), por isso a ligação entre Koch e Cohen. Nos antigos reinos alemães (antes da unificação) os Cohen eram os responsaveis por abastecimento e abates das vilas judaicas, por isso outro motivo da ligação entre os sobrenomes. Os Cohen são os judeus descendentes direto do irmão de Moisés (Arão) que virou sacerdote e transmitindo essa condição a todos os seus filhos e descendentes. Por isso todo judeu sabe que um descendente de Arão é legitimo graças ao seu sobrenome e aí cito as variações de Cohen: Koch, Kochim, Kochin, Kohn, Kuhn, Kuhnen, Kuhin, Kuhim, Kahn…todos de origem alemão. Stein também é um nome bem comum entre os judeus seguindo suas variações fonéticas. Uma judia que se converteu ao catolicismo (Judith Stein ou Edith Stein…é a mesma coisa) é um dos exemplos de judeus que se desconectaram com o judaismo mas mantiveram traços culturais. Ela foi canonizada (se não me engano) pelo papa João Paulo ll em 1999. Sobrenome Dieh também é muito comum entre os judeus ainda nos dias de hoje existirem pessoas com tal sobrenome em Israel e USA. Vale lembrar que muitas cidades do interior do Brasil foram criadas por anussim ou marranos (judeus convertidos a força para o cristianismo). Segundo viajantes e testemunhos contemporâneos, três quartos da população branca do Brasil, no século XVII, era constituída de judeus. (Anita Novinsky, 1992).
        Os bandeirantes na sua maioria tinha origem judaica; Antônio Raposo Tavares, Pedro Vaz de Barros, (fundador de São Roque/São Paulo), os irmãos Fernandes (fundadores de Sorocaba/São Paulo) e tantos outros, são exemplos disso. O fundador de Piracicaba, Antonio Correia Barbosa com toda certeza é um descendente de judeus (cristão novo) pois Correia é um sobrenome tipico de judeu assim como Barbosa. Quem for no antigo cemitério judaico de Nova York verá nas lápides sobrenomes como Nunes, Lopes, Correa, Coelho, Seixas, Fonseca, Cardozo e Barbosa, pessoas que sairam de Pernambuco no século 17 e fundaram a Bolsa de Valores na cidade de Nova Amsterdã hoje Nova York. Segue para o autor uma matéria falando de pessoas com descendencia judaica no Brasil que podem adquirir cidadania portuguesa se provarem que descendem dos judeus expulsos de POrtugal no seculo 15. http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151103_sefarditas_cidadania_lei_mf

        Espero ter contribuído com o autor em alguma informação,

        Cordialmente,

        Hai Mendel

  2. Alessandra Cristina em 19/02/2013 às 10:44

    Bom dia Fábio, li o seu artigo e gostei, como o amigo Geraldo gostaria de obter a literatura mensionada, mais infelizmente pra mim será mais dificil, moro em Alagoas.
    o porque do interesse por Piracicaba? Procuro familiares. Pelo relato de minha mãe, meu bisavos passaram por aí, ou seja, meu bisavô é um dos estrangeiros que se alijaram aí, e acredito que fizeram história, era italiano, minha bisavô uma índia, dessa união tiveram dois filhos minha vô Dona Aparecida Agostinho e Osvaldo Agostinho, o qual procuro noticias e familiares. gostaria de saber se por meio deste site, ou outros caminhos encontrar parentes.
    Aguardo resposta.
    Bom dia

    • Fabio em 19/02/2013 às 11:40

      Bom dia Alessandra. Obrigado pela leitura do artigo. Gostaria de lhe passar algumas informações. Contate-me pelo meu e-mail pessoal: [email protected]. Abraço

  3. Célia Ferreira em 22/04/2013 às 12:12

    Bom dia Sr Fábio, envio-lhe um mail referente e encontrar antepassados de minha mãe que nasceu em Piracicaba e cuja história eu gostaria de conhecer um pouco mais.
    Grata.
    Célia

  4. Rodrigo do Canto Rueda Ruiz em 30/10/2014 às 05:30

    Olá Sr. Fabio meu nome é Rodrigo sou descente de Paiagua com alguns imigrantes europeus mas me interesso mesmo pela cultura paiagua os verdadeiros donos da cidade e do rio onde o peixe para. Meus pais são nascidos em Piracicaba assim como meus avós de sobrenomes, Tomazzella, Rueda Ruiz, do Canto , Mondoni e Oliveira. Meu bisavó Félix Mondoni casou com a Sra. Jacira minha bisavó claro descendente dos paiaguas, gostaria de saber mais sobre os Paiaguas o Sr. pode me Ajudar.

    Agradeço a atenção
    Abraços Rodrigo
    [email protected]
    [email protected]

  5. LINNEU JOSE LIBORIO STIPP em 16/08/2016 às 20:51

    FABIO BOA NOITE

    OQUE VOCE TEM SOBRE A IMIGRAÇÃO DE ALEMAES E SSUIÇOS, PRINCIPALMENTE SOBRE A FAMILIA SCHALCH E SOBRE STIPP E POERSCH (PERCHES, kERCHES+

  6. Ruben em 23/11/2017 às 08:28

    Bom dia Fabio muito obligado pelo aporte histórico soy de nacionaidade Peruana e moro a 20 anos em Piracicaba minha esposa e dois filhos são Piracicabanos e amo esta terra como se dose a minha parabéns pela matéria e pra terminar gostaria de lhe perguntar se os famosos Bandeirantes estiveram aqui nessa região e se eles fazem parte do descubrento também da cidade… Obrigado

  7. maria Aparecida oliveira em 02/03/2019 às 02:00

    ola…li td aki e gosta ria de saber se tem algo sobre familia do meu sogro…um nasceu ai em Pitacicaba e depois outro q nasceram depois fora pra soa carlos e Ibaté….eles saum decendentes Italianos….. familia Nicolau….e nicolau conus…..

  8. Norma Segatti Hahn em 21/05/2019 às 17:39

    Olá Fabio gostaria de saber se existe algum registro dos meus avós Ludwig Hahn é Nadja Hahn qdo chegaram em Piracicaba. Vieram da Áustria com 2 filhos…um deles é meu pai.
    OBGDA

    • Patrícia Elias em 28/05/2019 às 20:12

      Olá, Norma!

      Infelizmente, não temos essa informação.
      abraço,

  9. Diélison Correa de Carvalho em 29/12/2021 às 12:54

    Como posso conseguir acesso aos registros de imigrantes que chegaram em Piracicaba? Minha avó nasceu em Piracicaba e se chama Josefa Ribas, filha de Manoel Ribas Ribas e Encarnacion Ribas. Meu bisavô não era brasileiro, infelizmente ainda não consegui encontrar os registros deles, já pedi pros familiares diversas vezes, mas acabam não me passando os dados.

    • Patrícia Elias em 29/01/2022 às 11:29

      Olá, Diélison, grata por visitar nosso site.
      Infelizmente, não temos informação sobre isso. Uma sugestão seria vc pesquisar junto aos cartórios e Câmara Municipal de Vereadores (em Piracicaba) e também no Arquivo Público do Estado de São Paulo.
      Boa sorte em sua pesquise! Espero que vc encontra o que procura.
      um abraço, Patrícia

  10. Wagner Rene Fignana em 23/07/2022 às 02:58

    Bom dia meu é Wagner R. Fignana, moro em São Paulo Capital, não sei se o sobrenome FIGNANA, foi traduzido em Ribeirão Preto para FINHANA, ou se foi no registro de pai que erraram, quando meu pai foi registrado, ele chamava-se JOÃO FIGNANA, minha avó nasceu em Piracicaba, chamava-se MATILDE KROL, ela era casada com o meu avô que se chamava-se GUINÉ FIGNANA, meu avô nasceu em Ribeirão. Essas informações costão, na Certidão de Nascimento de meu pai.

    Minha avó, era filha de HENRIQUE KROL e HANNA ABRAÃO, porém não tenho, nenhum registro de seus familiares, e descendentes, uma informação porém não sei se é correta, de que meu bisavó Henrique Kroll e sua esposa Hanna, eram Judeus alemães, que vieram para o Brasil, e se instalaram em Piracicaba.

    Tenho desejo de conhecer meus parentes.

    Por favor se vocês tem alguma informação e registro sobre eles, poderiam me informar.

    Fico no aguardo de uma resposta.

    • Patrícia Elias em 31/07/2022 às 12:03

      Caro Wagner, td bem?
      Fizemos uma rápida busca por alguns materiais do acervo do Cecílio e, infelizmente, não encontramos referências aos nomes citados por vc.
      Lhe desejamos sorte em sua pesquisa e agradecemos sua consulta ao nosso site.
      um abraço

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