Republicanismo na imprensa de Piracicaba

Seria pretensão demais tentar em tão poucas linhas – mesmo à guiza de subsídios – uma análise, superficial que fosse sobre a influência republicana na imprensa de Piracicaba. Basta a presença dos Moraes Barros — de forma tão ampla e abrangente no cotidiano piracicabano a partir do último quarto do Século XIX – para se entender a “boa nova” republicana em contraponto à monarquia agonizante.

Piracicaba tem uma privilegiada tradição de jornalismo, umbilicalmente ligada à história da imprensa nacional. E é algo entranhadamente oposicionista, até mesmo quando são lideranças ligadas ao poder. Os homens que criaram o primeiro jornal de São Paulo, “O Farol Paulistano” – ainda durante o Império, em 1827 – exerciam seu poder em grande parte a partir de Piracicaba. Eram José de Costa Carvalho – o futuro “Barão de Monte Alegre” – e Nicolau de Campos Vergueiro, o Senador Vergueiro, ilustres varões da Monarquia. Membros da Regência do Império, tornaram-se oposição aos rumos imperiais.

Em Piracicaba, porém, o primeiro jornal editado é, comprovadamente, de 1874, apesar de todo um excesso de divagações e de registros de um primeiro jornal, escrito à mão, “Pasquim”, em meados dos Oitocentos. Trata-se de “O Piracicaba”, de importância significativa nessa superficial abordagem da boa e santa comunhão de Imprensa e República em terras piracicabanas. É um amante da República o criador desse primeiro jornal piracicabano, Brasílio Machado, inteligência fulgurante, pai e avô dos consagrados Alcântara Machado. Estudando nas “Arcadas” do Largo de São Francisco, foi contemporâneo de Rui Barbosa, de Castro Alves e, portanto, de toda aquela geração a que também pertenceu Prudente de Moraes. Era um republicano apaixonado, adversário incansável da monarquia. Sua paixão pela terra do rio murmurante, ele a cantou nos versos imortais do poema “Piracicaba”, quando e onde ele viu uma “Noiva da Colina”, arrancando das “mãos o manto da neblina” , exigindo dela: “Sacode os ombros nus, ó Noiva da Colina…” No jornal “O Piracicaba”, haveria de estar essa paixão. Republicana.

É, no entanto, a “Gazeta de Piracicaba” o primeiro jornal a ter continuidade, a permanecer. Nasce em 1882. Prudente de Moraes já era líder e esperança em nível estadual e nacional. O “Estadão” – então, com o nome de “Província de São Paulo” – tinha surgido em 1875, para defender o ideário liberal da época. Lá estava, fundando-o, Cerqueira César, futuro sogro de Júlio de Mesquita. Mas era Rangel Pestana o ideólogo republicano, o visionário que, com Cesário Motta, estimulava a liderança de Prudente de Moraes. Júlio de Mesquita, ainda jovenzinho – e antes de assumir o comando do “Estadão”, preenchendo o lugar de Rangel Pestana — foi secretário particular e de governo de Prudente de Moraes, em São Paulo.

Tudo da preparação e do início da República está ligado à Piracicaba dos Moraes Barros. Na “Gazeta de Piracicaba”, registra-se toda uma história republicana. Na direção dela, estiveram o sobrinho de Prudente, Antônio de Moraes Barros, o Totó — irmão do maior dos descendentes , Paulo de Moraes Barros – e o genro, advogado e políticoJoão Sampaio (foto). Para não deixar dúvidas quanto a seus propósitos, a “Gazeta” se qualificava como “órgão republicano”. Foi a âncora de Prudente de Moraes em sua terra de adoção, onde ele fincou as raízes republicanas.

A “Gazeta de Piracicaba” encabeçou a grande recepção a Prudente de Moraes em seu retorno à cidade, terminado o mandato presidencial. Como que crismando esse republicanismo de nossa imprensa, lá estava, na comitiva de Prudente, Júlio Mesquita, o “jornalista da República”…

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