ESALQ: um século de ciências agrícolas em Piracicaba – (XI)

2. CENTRO DE ENERGIA NUCLEAR NA AGRICULTURA (CENA)

2.1 – Resumo histórico

O CENA começou com a doação pós-bolsa (post fellowship grant) que recebi da Fundação Rockfeller, depois que voltei de Berkeley: 3 mil dólares com os quais comprei o equipamento básico para trabalhar com radioisótopos. Com Admar Cervellini (que estava preparando sua tese de livre docência na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em São Paulo, sob a orientação do físico Marcelo Damy de Souza Santos) instalei, no Pavilhão de Engenharia, o Laboratório de Isótopos. Para isso, foi decisiva a contribuição do Diretor de então, Erico da Rocha Nobre, o gongórico amazonense de coração tão grande como a hileira natal.

Quando Diretor (1964-70), com uma verba que Luiz Antonio de Gama e Silva, posteriormente Ministro da Justiça da revolução de 64, então Magnífico Reitor, tirou do bolsinho, construí o primeiro prédio do CENA, criando-o oficialmente e independente da ESALQ, há 34 anos.

Cervellini foi seu primeiro Diretor e a ele se deve o crescimento físico e técnico-científico do CENA.

A contribuição decisiva para esse crescimento foi dada em primeiro e maior lugar pelo citado Marcelo Damy, quando Presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Outras ajudas vieram da Agência Internacional de Energia Atômica e das Nações Unidas, através de outras agências.

Quantas vezes os 3 mil dólares iniciais foram multiplicados é difícil dizer: talvez mil. Mas, mais importante que os prédios, móveis e utensílios é a soma de contribuições dadas pelos pesquisadores e docentes do CENA.

2.2 Contribuições principais

A lista a seguir foi extraída, de modo reconhecidamente um pouco arbitrário, do que se encontra no livro de LEÃO (1987), comemorando os 30 anos de fundação do CENA, o que é diferente do início do uso agrícola da energia nuclear que, de fato, começou em 1953.

1. Nutrição Animal (A. L. Abdalla, C. F. Meirelles & D. M. S. S.Vitti)

• desenvolvimento de vacina irradiada contra vermes pulmonares;

• avaliação de fontes não convencionais de minerais na ração;

• redução no uso de vermífugos mediante melhoramento do nível de nutrição.

2. Irradiação de Alimentos e Radioentomologia (J. M. M. Walder, R. E. Domarco, V. Arthur & F. M. Wiendl)

• controle da broca da cana pela técnica de esterilização

do macho pela irradiação;

• idem, no caso da mosca das frutas;

• emprego da radiação na conservação de produtos perecíveis – da banana ao suco de laranja.

3. Histopatologia Vegetal (N. L. Nogueira & Da M. Silva)

• geografia da localização de vírus vegetais no Brasil mediante contribuição das técnicas de microscopia eletrônica e isotópica.

4. Biotecnologia Vegetal (A. P. M. Rodriguez & B. M. J. Mendes)

• obtenção de híbridos de citrus com resistência a doenças.

5. Melhoramento de plantas (A. Ando, A. Tulmann Neto, A. V. O. Figueira, E. Derbyshire & M.T. V. Derbyshire)

• estudo das proteínas vegetais, especialmente do feijão, e fatores nutricionais que interferem na sua digestibilidade;

• relação entre proteínas do glúten e qualidade do pão;

• obtenção de nova variedade de feijão por mutação induzida pela irradiação;

• exploração do germoplasma de arroz selvagem da Amazônia e do Pantanal;

• obtenção de mutante de soja precoce por mutação provocada;

• indução de resistência à doença fusariose na pimenta do reino;

• cultura de tecidos de citrus e de banana com obtenção de resistência da última ao mal do Panamá;

• obtenção de crisântemo rosa claro por irradiação.

(continua)

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