A HISTÓRIA QUE EU SEI (118)

A UNIMEP transformava-se num cadinho ideológico, abrindo-se para todas as tendências políticas. Elias Boaventura haveria de dizer em entrevista da época: “Direita e esquerda plantaram guetos na universidade.” Mas eram as esquerdas as mais ativas e mais participantes. Dentro da UNIMEP, plantava-se, também, a criação do Partido dos Trabalhadores. Os estudantes mobilizavam-se. As crises e greves eram contínuas. No entanto, estava implantada uma tendência que acabou influindo diretamente na vida política de Piracicaba. A “república socialista de Piracicaba”, como era chamado o governo do Prefeito João Herrmann Neto, passou a ter, na UNIMEP, poderoso aliado. Caminharam de mãos dadas. Adilson Maluf, com a implantação do Distrito Industrial e o conseqüente agravamento dos problemas sociais da cidade, permitira o surgimento de uma nova população carente e desprotegida. O Prefeito João Herrmann Neto – deixando-se imantar por planos e objetivos de cunho socializante – voltara-se àquela nova população periférica. A UNIMEP abria-se no sentido de conscientizá-Ia e de dar-lhe guarida. Completava-se, assim, um círculo. E Piracicaba passava a abrir-se para uma nova realidade, para um novo tempo.

A “esquerdização” da UNIMEP tomara-se tão notória e clara que isso passara a ter reconhecimento nacional. Lembro-me de que, estando, certa vez, no gabinete do então todo-poderoso Ministro Delfim Neto (Planejamento, no Governo Figueiredo), em Brasília, ele me mostrou um processo de destinação de verbas à UNIMEP, que passava por grandes dificuldades financeiras. O Ministro Delfim Neto foi claro ao afirmar-me, e levei isso ao conhecimento de Elias Boaventura e Almir Maia: “As verbas não sairão enquanto a UNIMEP mantiver a linha ideológica imposta pelo atual reitor.” Havia antecedentes: Elias Boaventura atritara-se, anteriormente, com o Ministro da Justiça, Abi Ackel – atrito iniciado desde a mocidade, pois ambos eram da mesma cidade mineira, Manhuaçu – aumentando as dificuldades. Em telegrama, o Ministro chamara Elias Boaventura de louco …Ao mesmo tempo que se atritava com o governo federal – e, também, com o estadual, à chefia do qual estava o Governador Paulo Salim Maluf – Elias Boaventura visitava Costa Rica e Nicarágua, sendo recebido, neste pais, pelo Ministro da Educação, Carlos Tucuman, no período agudo pós-Somoza. Por outro lado, na área religiosa – lembrando-se que a UNIMEP tem como mantenedora a Igreja Metodista – Elias Boaventura estimulava o ecumenismo, relacionando-se com a esquerda católica- da qual despontava o Cardeal Paulo Evaristo Aros – trazendo, a Piracicaba, aquele que era tido como um dos principais teólogos da Teologia da Libertação, Hugo Assmann, após 12 anos de exílio. Sobre Piracicaba, sopravam ares de grandes transformações políticas, econômicas, sociais. E, para João Herrmann Neto, surgia, com a UNIMEP de Elias Boaventura, a base cultural e intelectual de que ele precisaria para levar avante a “república socialista de Piracicaba”.

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