A HISTÓRIA QUE EU SEI (LV)

A outra vez de Luciano
Não há como negar que Luciano Guidotti tenha sido um referencial! Tornou-se um mito. Mas, talvez, se não tivesse morrido de forma tão dramática e em pleno exercício de seu mandato, Luciano Guidotti poderia ter um outro perfil. Os brasileiros devemos agradecer aos deuses, quem sabe? – temos o cacoete de interromper discussões sobre os que morrem, especialmente quando morrem de forma trágica ou repentina. Aconteceu com Luciano Guidotti, e aconteceu, também, com Cássio Paschoal Padovani. Ambos morreram em pleno exercício de seus mandatos de prefeito. E, por isso, interrompeu-se a discussão sobre o que e o como de sua atuação e ação enquanto políticos. Bloqueia-se a visão crítica.

A segunda administração de Luciano Guidotti, à frente da Prefeitura de Piracicaba, foi muito mais profícua, em se analisando as realizações materiais, do que a anterior. Luciano, em seu retomo à Prefeitura, não poupou esforços e recursos para construir e fazer. Nesse sentido, seria conveniente analisar o que, mesmo com o advento do militarismo, ainda estava vivo em 1964: o “estilo juscelinista”, ou seja, um estilo de construir, que inspirava prefeitos, governadores, homens públicos, empresários. Os estádios municipais de futebol, por exemplo, eram inspirados pelo bicampeonato conquistado pela Seleção Brasileira no Chile, do qual participara, também, o piracicabano Coutinho, companheiro de Pelé, nascido esportivamente no “Palmeirinha” da Cidade Alta. Construíam-se estádios de futebol em todo o país, já a visão de “Brasil Grande”, inspirada por Juscelino Kubitschek. Em 1960, surgia o Estádio do Morumbi, uma instituição esportiva particular construída para abrigar 150 mil pessoas. Em 1965, os estádios de Brasília – “Pelezão”, para 45 mil pessoas – o “Mineirão”, em Belo Horizonte, também para 45 mil pessoas; em 1966, o “Gigantão”, de Vitória (ES), para 30 mil pessoas. E, em Piracicaba, em 1965, Luciano Guidotti inaugurava o “Barão”, que tinha sido iniciado por Salgot Castillon, previsto para abrigar 45 mil torcedores, mas reduzido para 25 mil. O Brasil continuava caminhando ao estilo de Juscelino e, assim, “administrar era fazer obras”. As visíveis.

Deve-se, a Luciano Guidotti, em sua segunda administração, a construção das avenidas que, atualmente, têm o nome de “Luciano Guidotti” (da Av. Independência até a saída para Tietê), a “Cássio Paschoal Padovanni” (da Av. Independência até a saída para a estrada para Tupi), o viaduto que liga a rua do Rosário às proximidades do Clube de Campo, as pontes conhecidas como pontes do Morato, do Lar dos Velhinhos, da Nova Piracicaba, a Avenida Centenário, iluminações públicas, início do Teatro Municipal e muitas e muitas outras obras visíveis e notórias.

Contra ele, porém, pairavam queixas: quando da construção da Avenida Saldanha Marinho, na administração anterior, Luciano Guidotti houvera interrompido a avenida quando ela se aproximara de sua casa, A oposição levantou-se contra Luciano Guidotti. E isso tinha algumas razões de ser.

Uma dessas razões foi a incompatibilidade que Luciano Guidotti passou a ter com a imprensa local. Desde que “O Diário” e “O Jornal” – por decisão de Sebastião Ferraz e de Losso Neto – passaram a apoiar Salgot Castillon, Luciano Guidotti perdeu espaço na imprensa. E havia motivos pelos quais aqueles dois jornais, por seus diretores-responsáveis, se justificavam: o primeiro deles era o fato de Luciano Guidotti ter sido um dos fundadores da “Folha de Piracicaba”, acontecimento que Ferraz e Losso não perdoavam; outro era a prepotência e autoritarismo naturais de Luciano, um homem que se impunha a toda e qualquer organização constituída. Finalmente, a imprensa piracicabana se voltou definitivamente contra Luciano Guidotti quando, em 1966, ele decidiu criar a “Imprensa Oficial do Município”.

A própria “Folha de Piracicaba”, também crítica a Luciano, ficou contra ele. Pois Luciano Guidotti, ao criar a “Imprensa Oficial”, em Dezembro de 1966, fê-la no sentido de sua própria promoção pessoal, com reportagens e artigos que diziam de suas obras e realizações, contrariando o ordenamento de que, sendo oficial, a imprensa do município deveria ater-se à divulgação de aios apenas oficiais.

Um dos primeiros diretores da “Imprensa Oficial” foi o jornalista João Maffeis Neto, que Luciano conseguiu, pelo fato de ser funcionário municipal, afastar da “Folha”. As máquinas haviam sido adquiridas da Usina de Cillos, em concordata, assunto que gerou muita celeuma.

E foi neste mesmo ano de 1967 que Piracicaba comemorou o seu Bicentenário de fundação, num ano de festas magníficas, inaugurações de monumentos, distribuições de medalhas e condecorações que contaram com a presença do governador recém-eleito, Roberto de Abreu Sodré.

•CONTINUA

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