A HISTÓRIA QUE EU SEI (LXVIII)

A morte de Luciano
1968, que mostrava conturbações e problemas sociais e políticos em todo o mundo, guardava, para Piracicaba, mais uma tragédia, que, ainda outra vez, alteraria os rumos do município. No dia 7 de Julho, morria, vítima de um ataque cardíaco, o prefeito Luciano Guidotti. Era um domingo. Luciano participara de um almoço no Lar dos Velhinhos, onde houvera festividades. Nada indicava que estivesse ele com algum mal-estar. No entanto, os dias anteriores tinham sido tensos e de grandes dificuldades. Acontecera a renúncia de Humberto D’Abronzo e, quase ao mesmo tempo, ruíra o prédio onde se instalava um novo grupo escolar, nas proximidades do Clube de Campo, uma obra polêmica e contestada pela maneira como fora construída. Luciano Guidotti, um homem passional, estava vivendo dias de grande irritabilidade. Ao retomar à sua casa, saindo do Lar dos Velhinhos, Luciano Guidotti sentiu-se mal e não sobreviveu ao golpe cardíaco.

Foi um dos maiores enterros a que Piracicaba assistiu em todos os tempos. Pessoas de todas as classes sociais, multidão incalculável, compareceram ao velório de Luciano Guidotti, acompanhando a uma ate o Cemitério da Saudade. No entanto, o ambiente político se tomara de altíssima tensão. A morte repentina de Luciano não apenas deixava órfãos políticos dentro do “guidotismo”, como fazia com que aumentassem as rivalidades existentes, transformando-as em verdadeiros odioso “Salgosistas” e “guidotistas” deixavam de se tomar apenas adversários para se mostrarem inimigos irreconciliáveis. Já no cemitério, criava-se o mito, uma legenda. Luciano Guidotti passava a ser “o maior Prefeito de Piracicaba em todos os tempos”. Sua morte calava os adversários e impedia qualquer outra análise de sua administração. O homem discutido, polêmico, deixava de ser questionado e, a partir de então, “repetir a administração de Luciano Guidotti” se tomou uma bandeira em Piracicaba, um modelo que não se discutia.

No mesmo dia 7 de Julho de 1968, assumiu a Prefeitura o vice-prefeito Nélio Ferraz de Arruda, um dos líderes do “ademarismo” em Piracicaba. Nélio era uma pessoa estimada, popular, respeitada. Nélio assumia a Prefeitura, no entanto, debaixo de pelo menos duas fortíssimas pressões: o traumatismo causado pela morte de Luciano Guidotti e a sombra da administração “guidotista”. Outro detalhe importante: Nélio Ferraz de Arruda, junto com os “ademaristas”, estava em oposição a Luciano Guidotti, formando, dentro da ARENA, uma ala que tinha sido hostil e adversa ao prefeito falecido. Dessa maneira, era inevitável que as antipatias “guidotistas” recaíssem sobre o novo Prefeito, de forma que Nélio Ferraz de Arruda iniciou a sua administração em situação e condições muito difíceis. De sua administração, consta a construção da Ponte do Caixão – que levou esse nome por causa do desnível de suas cabeceiras – o viaduto da rua Edu Chaves, a instalação dos “Catalits” – aparelho que se dizia purificador para o tratamento de água – a construção de uma praia na rua do Porto, que a primeira chuva destruiu … Nélio Ferraz de Arruda pensou, também, em declarar de utilidade pública o Palacete Boyes, visando desapropriá-lo para poder transformá-lo em residência oficial do Prefeito e de visitantes oficiais.

As eleições se aproximavam. E um fato novo surgia: o “guidotismo” pretendia manter-se vivo mesmo com a morte de Luciano Guidotti. E se iniciou a campanha, debaixo de grandes discussões de ordem legal, para o lançamento da candidatura de João Guidotti a prefeito municipal. Era como se se tratasse de uma herança política. O cadáver de Luciano Guidotti se transformou em bandeira das mais passionais, com João Guidotti à frente, cultivando a memória do irmão.

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