A HISTÓRIA QUE EU SEI (XXVI)

“Ditinha”
Nas eleições municipais de 1955, um fato novo abalou os meios políticos: originária das hostes “ademaristas”, era eleita para a Câmara Municipal de Piracicaba uma mulher. Mulher e negra, o que, na época, era um enfrentamento a todos os preconceitos socias e raciais que existiam: Maria Benedita Penezzi, a “Ditinha”, tinha sido a mais votada dos vereadores. Sua eleição, a princípio, foi levada como chacota. No entanto, não se passaram muitos meses, após a posse, para “Ditinha” revelar uma extraordinária capacidade de adaptação ao pragmatismo político. Aderiu – após alguns entendimentos e pressões – a Luciano Guidotti e, para aturdimento dos políticos locais, “Di tinha” se tornou “habituée” do Palácio dos Campos Elíseos, sede do Governo Paulista, onde estava o sisudo e intratável Jânio Quadros. Insinuante, conhecendo o código político e a maleabilidade dos segundo e terceiro escalões, “Ditinha” conseguiu um grande espaço, presenteando pessoas e influindo em nomeações e conquistas regionais junto ao Governo de São Paulo. Essa influência de “Ditinha” veio a se repetir também no Governo Carvalho Pinto, que sucedeu imediatamente ao de Jânio Quadros.

“Ditinha” Penezzi, tendo iniciado a sua carreira em 1955, reelegeu-se sucessivamente para as legislaturas de 1960/63, 1964/69, 1969/72. Mesmo quando Adhemar de Barros retomou ao Governo de São Paulo, “Ditinha” manteve a sua influência e o seu trânsito. Aconteceu, porém, que os “ademaristas” não a perdoavam pelos anos anteriores de prestígio e de influências. Foi, então, que, na legislatura de 1964/69, ela teve o seu mandato extinto, após um rumoroso processo em que fora denunciada por extorquir um verdureiro do Mercado Municipal, tendo sido absolvida depois.

Em relação a “Ditinha” Penezzi, houve muito folclore político. No entanto, a sua passagem pela política piracicabana tem que ser vista como um momento de grande importância, dados os preconceitos que existiam na época. Na Câmara Municipal, “Ditinha” teve presença marcante, sua atuação sempre foi polêmica, sofrendo pressões e humilhações. Era a primeira mulher a ocupar um cargo eletivo em Piracicaba. Mulher e negra, o que dá a dimensão do pioneirismo que representou a sua vida política.

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