Tempos Monárquicos: A vila e a Cidade de Constituição

O progresso experimentado em Piracicaba, por efeito dos engenhos e das tropas cargueiras, alimentou o projeto dos políticos liberais que desejavam erigi-la em Vila, desde 1816. As grandes lideranças políticas estavam em mãos do Capitão Domingos Soares de Barros, do Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e do Vigário, Pe. Manuel Joaquim do Amaral Gurgel. O objetivo só foi alcançado em 10/08/1822, pouco antes da Independência do Brasil, mas a comunidade, infelizmente, mudou de nome, passando a chamar-se Vila Nova da Constituição, ou melhor, Constituição.

Piracicaba deixara de ser “boca de sertão”, experimentando as transformações que caracterizavam a chegada da fronteira agrícola: crescimento populacional, aumento da escravidão, multiplicação das propriedades rurais e dos engenhos, valorização da terra e expansão do sistema viário. A fertilidade do solo e a possibilidade de expandir as lavouras atraíam os proprietários de todo o Vale Médio do Tietê, até de Minas Gerais e Portugal.

O recenseamento de 1822 dava conta de 648 fogos (lares) para o Distrito da Vila de Piracicaba, excluindo-se a Freguesia de Araraquara, o que significava uma população aproximada de 3.762 indivíduos, incluindo livres e escravos. O Distrito abrangia Piracicaba, Santa Bárbara, Limeira, Rio Claro e Pirassununga. A população urbana era muito pequena, não ultrapassando os 700 habitantes, distribuídos entre o Itapeva (avenida Armando de Sales Oliveira) e a rua da Praia (do Porto), a rua do Concelho (rua Prudente de Morais) e a rua dos Ourives (rua Rangel Pestana).

A instalação do governo municipal (a Câmara) fez-se debaixo do enfrentamento de dois poderosos grupos de proprietários rurais, divididos por ideologias (liberais, da linha do Senador Nicolau de Campos Vergueiro; “corcundas” e absolutistas, na linha dos Arruda Botelho) e por interesses econômicos dentro do rossio (terreno da Vila). O conflito chegou ao apogeu durante a Revolução Liberal de 1842, quando os liberais conhecidos por chimangos se levantaram contra as Leis do Cabresto elaboradas pelos regressistas em favor do centralismo da Monarquia. Os piracicabanos eram liderados pelo Vigário Pe. Manuel José de França e pelo vereador Melchior de Mello Castanho. Durante curto período, Piracicaba teve a sua Câmara Revolucionária. Mas os chimangos foram derrotados na batalha de Venda Grande, ocorrida em Campinas em 07/06/1842. Sinal daqueles tempos difíceis, ergueu-se a Forca, pouco acima do Itapeva.

Na segunda metade o séc. XIX, Piracicaba continuava pequenina, havia tudo por fazer. Em 1856 foi elevada a condição de cidade, permanecendo o nome: Constituição. A descrição deixada pelo Barão Von Tschudi, que avisitou em 1860, não é nada lisonjeira: muitos escravos, prédios feios e acanhados. Casa da Câmara, Teatro, Matriz, Igrejas do Rosário ( São Benedito) e da Boa Morte, cemitério onde é a Escola Morais Barros, casario barroco escorrendo pelas ruas da Quitanda ( XV de Novembro) e de Santo Antônio (Governador). Trânsito, só na rua Direita (ex-Picadão, Morais Barros), a artéria que ligava à ponte sobre o rio Piracicaba. Os monarquistas mantinham-se fortes na Câmara e, por duas vezes, o Imperador D. Pedro II visitou Piracicaba, em 1846 e em 1878.

Nos últimos anos do Império, constituiu-se uma verdadeira aristocracia em Piracicaba, consolidaram-se as lideranças conservadoras dos barões de Rezende (Dr. Estevão Ribeiro de Sousa Rezende), de Serra Negra (Francisco José de Conceição) e do futuro Barão de Piracicamirim ( Antônio de Barros Ferraz). Logo após a Convenção Republicana de Itu, em 1873, se lhes antepôs um grupo dinâmico que sustentava as suas convicções liberais e federalistas no interior de um novo projeto de construção da nacionalidade. Eram os republicanos: os irmãos Morais Barros (Manuel e Prudente), Luís de Queirós, Martim Bonilha, Victaliano Ferraz do Amaral, Paulo Pinto de Almeida.

No final da década dos anos setenta, Constituição recuperou o seu nome de origem, por instância do vereador Prudente de Morais, voltando a chamar-se oficialmente Piracicaba (1877). Neste mesmo período, começou a experimentar expressivas transformações sócio-econômicas, grande afluxo imigracional e abertura das idéias políticas no rumo da Abolição e da República. O café e a cana continuavam sendo as principais riquezas, mas deslanchavam as oficinas, o capitalismo comercial e financeiro. Os principais sintomas deste novo dinamismo foram: a construção da Ponte Nova, acima do Salto (1875), a chegada da ferrovia, a Cia. Ituana (1877), a organização das grandes escolas confessionais, o Colégio Piracicabano (1881) e o Colégio Nossa Senhora de Assunção (1883), a Santa Casa de Misericórdia (1883), o Serviço de Água (1887), o Mercado Municipal (1888) e a Telefonia (1889).

Piracicaba ainda possuía expressiva população escrava às vésperas da Abolição, crise que superou sem traumatismos, dada a progressiva substituição do trabalho escravo pelo livre. A grande festa correu por conta do 15 de Novembro, comemorado em clima de exaltação cívica, ao som da Marselhesa, tida como o hino da Liberdade nas Américas.

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