Bancos

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Deixei vencer o prazo de uma merreca de conta. Só podia pagá-la no caixa. Na primeira tentativa nem pensar; o banco indicado no boleto estava lotado. Na segunda também. No dia seguinte procurei outra agência. De novo a fila era grande, mas tinha que resolver meu problema. Era perto das 11 horas. Dois caixas, sendo um preferencial. A fila preferencial – cheia de gente saudável e bem disposta – até andava, a nossa não. A irritação flutuava no ar; muitas pessoas só dispõem da hora do almoço para ir a bancos, mesmo porque eles abrem tarde e fecham cedo. Deveriam, portanto, colocar mais atendentes.

De repente uma correria, alguém alertou que os amarelinhos estavam multando carros e motos lá fora. Mais essa pra enterrar de vez qualquer resquício de bom humor. Aliás, esses amarelinhos quase nunca estão onde devem estar. O serviço deles – grosso modo – é multar. Parece que sentem prazer nisso.

Voltando ao banco, depois de meia hora consegui ser atendido. Apesar da gentileza do caixa, sentia-me um otário. Vejo todos os dias a toda hora propaganda do mesmo banco na TV, uma fortuna que poderia ser usada em melhor atender os usuários, clientes ou não. É o mínimo que se espera de uma instituição que se enrica com o dinheiro dos outros, mais ainda dos pobres, já que dos ricos o banco corre atrás.

Lembrei-me dos policiais mortos em confrontos com ladrões de caixas eletrônicos. Vidas desperdiçadas, famílias destruídas. Embora existam para manter a ordem, não serão lembrados como heróis, mesmo porque perderam a vida na defesa do patrimônio de quem já é rico por demais e está nem aí com seu povo e seu país. Vejo nomes de banqueiros nas listas dos mais ricos do mundo. “Brasil tem 65 bilionários. Fortuna soma US$ 220 bilhões. Nomes estão ligados ao setor bancário, construção civil, cervejas, mídia e varejo”. (JP 06.03.14). Mesmo assim, nada sacia a sede dessa gente. Para conseguir algum aumento os bancários precisam encarar greves desgastantes, prejudicando mais ainda o povo que fica desesperado para honrar seus compromissos.

Sei que entra crise, sai crise; entra governo sai governo e a maior parte dessa turma está sempre por cima. Acontece que muitos deles são os que financiam campanhas eleitorais de políticos voltados para o desenvolvimento econômico, que favorece a minoria de sempre, e não para o desenvolvimento social, que beneficia a maioria.

Por outro lado, quem acompanhou pela mídia a greve dos coletores de lixo no Rio de Janeiro pode sentir quem é realmente indispensável no funcionamento de uma cidade. Se a greve demorasse mais alguns dias o Rio entraria em estado de calamidade pública tal a montanha de lixo produzida pelo relaxo e pela falta de responsabilidade da sociedade carioca. Mesmo sabendo de sua importância, o governo, como sempre, tratou os garis como baderneiros e marginais. Mas, apesar das pressões, chantagens e ameaças, venceram e conseguiram senão tudo, muito do que pleiteavam. Parece que dos vergonhosos 800 reais que recebiam passaram para l.200, que é ainda pouco pelo que fazem.

Manda os banqueiros entrarem em greve; ou mesmo os deputados ou a maioria dos vereadores. As cidades continuariam virando normalmente por muito tempo; talvez ninguém nem notasse. Qual a diferença entre um gari e um banqueiro, ou um político? Basta colocar qualquer um deles atrás de um caminhão de lixo para ver. Tenho a impressão que não aguentariam uma quadra sequer.

“Ainda que a pobreza torne a vida difícil, é ingênuo pensar que a riqueza por si só, seja capaz de resolver os enigmas que a existência nos impõe”. (Cláudio L. N. Guimarães dos Santos – médico e diplomata).

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