Bilhetes de amor

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    Bilhete-românticoHoje, eu quero a rosa mais linda que houver / e a primeira estrela que vier/ para enfeitar a noite do meu bem.

Ah, meu bem! Como enfeitar a tua noite, se já tens nos olhos as estrelas necessárias? Elas me apontam um horizonte possível, entremeado de sonhos. Penso em chegar lá, talvez, habitar o chão feito de areia e poesia, para morar definitivamente na terra da felicidade.

Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam/ Simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti.

De ti, vem um perfume bom do abraço. Do café descafeinado, a mesa posta e perfumada de gentilezas. Vejo as rosas se abrindo em cada canto da tua alma inquieta. Inquieto-me. Por que rosas nos dizem tanto?

Você é isso, estrela matutina / luz que descortina um mundo encantador / Você é isso: é parto de ternura/ lágrima que é pura / paz do meu amor.

Que amor nos dá paz? Que tipo de paz é reservado aos que amam, apaixonam-se, e sofrem? Depois que um poeta escreveu versos deste calibre, tudo será redundante na tentativa de cantar a mesma beleza. Apago meu poema noturno, considero o estro duvidoso e permito que a noite anuncie o parto da ternura.

Ah, meu amor, não vás embora / vê a vida como chora / vê que triste esta canção.

Sim, meu amor, há algumas tristezas profundas neste chão que trilhamos espantados. Não pisamos nos astros, distraídos: estes pertencem à outra canção. Mas o universo nos acolhe em átomos e quando nos perdemos, nossas mãos tateiam o rastro do que chamamos mundo. Vasto mundo.

Eu sem você não tenho por que / porque sem você não sei nem chorar / Sou chama sem luz, jardim sem luar/ Luar sem amor, amor sem se dar.

Às vezes, a vida se completa. Basta uma só pessoa. Aquela. E quando estamos em seus braços, o mundo pode acabar lá fora, nada mais importa.  A plenitude é perfeita e límpida. O coração não cabe dentro do peito, diante de um olhar sereno que nos contempla em silêncio. A respiração fica suspensa entre o céu e a terra.

Vem que eu te quero fraco / vem que eu te quero tolo/ vem que eu te quero todo meu.

Mas se não puder vir, mande uma mensagem, passe um whats, estarei conectada, assentindo que a tecnologia jamais irá suplantar as palavras ditas ao telefone de Graham Bell. Leitor! Imagine o efeito, se pronunciadas ao vivo! Você teria coragem?

Ah, se eu te pudesse fazer entender / sem seu amor eu não posso viver / E sem nós dois o que resta sou eu/ Eu assim, tão só/ Mas eu preciso aprender a ser só.

Bendita solidão solidária nas horas mais fundas da agonia existencial, nos momentos em que não há rosas, nem anjos ou passarinhos para escoltar nossa passagem por aí. Contudo, há batalhas belas para lutar, sonhos para viver e saudades para chorar.

É preciso amor pra poder pulsar / é preciso paz pra poder sorrir/ é preciso a chuva para florir.

Diria o grande, belo e saudoso Ariano Suassuna: Deus sabe o que faz!

 

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