O silêncio sofrido da Inocência

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A Palavra de Deus se refere apenas e de forma branda ao escândalo, embora e sempre com alcance e profundidade; não particulariza os pequeninos fracos e macilentos, quase sempre sonolentos pela fraqueza, no colo de mães ( e falsa mães) pedintes às portas dos locais públicos, sob o sol, a chuva, o vento e o frio; não se refere aos pequeninos a mercê de aproveitadores covardes que exploram e os levam ao tráfico e aos vícios; não especifica os brutamontes animalescos da pedofilia e dos estupros violentos que despejam sobre eles a sanha de seus apetites monstruosos e o sêmen de seus escrotos malditos; sobretudo, e como é doloroso admitir, não se estende à realidade terrível da frieza de mães( ???) que atiram seus filhos em latas de lixo,em lagoas, em caçambas, de mães (?? ?) cuja impiedade atinge os limites demoníacos, ao espancar o filho de apenas três anos ao ponto de levá-lo à morte!

É noite… Com fome ou com frio, com alguma dor e com medo, o menino acordou ou não conseguiu dormir, com certeza em busca de algo ou de tudo que lhe falta, talvez o essencial, o calor de um colo,de uma voz, de um acalanto, de um carinho…Sozinho, no catre ou na enxerga, seu recurso é o choro dentro de um malvado mundo que lhe parece tão imenso e aterrorizante! No bairro ironicamente chamado de Boa Esperança, ninguém se importou com seus gritos desesperados, ninguém ouviu seus apelos que também podem ter sido abafados pela mulher ensandecida. No corpinho fragilizado e quase sem vida, na cabeça, nos olhinhos semicerrados e na boca arroxeada, os vestígios de uma crueldade inaudita, de um espancamento brutal e inominável, perpetrado pela mulher que o trouxe ao mundo!

Não consigo dormir e penso nesta criancinha no leito de um hospital, entre a vida e a morte. Rezo por ela e por todos os pequeninos, por essa inocência sofrida de tantos que tão cedo experimentam da vida os sofrimentos, as dores e os desamores.Uma certeza, porém, me traz mais alento: há no céu um recanto especial para os anjos e para os pequenos de asas quebradas e de vôos impedidos pelas bruxas e os bruxos desumanos. Não sei bem se o que pedi a Deus foi o mais correto, o de levar essa criança para este recanto. Sua sobrevivência, neste caso, muito dolorosa, será marcada por um trauma irreversível que jamais será esquecido ou apagado!

1 comentário

  1. Marisa Bueloni em 25/11/2012 às 13:42

    Myria, a humanidade – não toda, talvez parte dela – enlouqueceu, pirou e está em estado terminal…
    É um horror sem fim.
    Pobres crianças… Deus Pai!…
    Abraços da Marisa Bueloni

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