O tempo de vida
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A idade, nosso tempo de vida na Terra, confere-nos alguma autoridade. Ou um pouco de rigor moral, para saber emitir juízos de valor, onde a noção de certo e errado, do bem e do mal, esteja fortemente alicerçada.
O escritor Pedro Nava dizia que a experiência é um farol voltado para trás. Pode ser. Ele ilumina nosso passado, nos ajuda a enxergar a trajetória que faz de nós o que somos hoje.
A idade e a contabilidade das nossas lutas e vitórias, dos erros e fracassos, emergem de um ponto onde as nossas forças se destacam solenemente. Aprecio, com imensa gratidão a Deus, os momentos em que nos encontramos combalidos, seja por uma simples gripe, uma enfermidade mais grave, ou um quadro de saúde que passe a exigir uma decisão imperiosa de nossa parte.
E a idade vem em nosso auxílio. O acúmulo dos anos em nossas costas conta pontos preciosos. O estágio em que já não há os arroubos das atitudes impetuosas e ousadas pode ser uma bênção na vida de muitas pessoas, pois as livra de vexames e gafes inconfessáveis. A ponderação, o bom senso e a serenidade são coadjuvantes honestos nos passos e ações de quem tem a maturidade presa entre as mãos.
O céu pode desabar sobre nossas cabeças e já não sentimos o peso desta catástrofe, pois aprendemos a usar o capacete da salvação. Privilegiados com o dom da fé, as vicissitudes terrenas passam a ser enfrentadas com amor e sabedoria. E isto independe da idade, mas é fato bem típico de quem começa a provar o lado provecto da vida.
Olho para trás e nas retinas estão impressas lindas cenas de afeto e de bondade. Nas recordações da infância, sinto o cheiro das frutas colhidas no pé, vejo a beleza das tardes de domingo no sítio dos tios queridos, a madrinha adorada que me cercou de mimos e presentes. O amor e a luta dos meus pais, sua santidade e hoje a saudade profunda. Meus sogros também já partiram e, de certa forma, foram meus segundos pais, pessoas a quem amei devotadamente. Vejo gestos cheios de amor até o último instante de suas vidas.
Olho para o presente e há uma riqueza cercando os meus dias. Família adulta, fortalecida, netos pequeninos, encanto deste tempo de vida. Olho para frente e vislumbro o mistério. Deparo-me com um oceano de profecias vaticinando a respeito do fim dos tempos, uma área de estudos do meu particular interesse.
O Senhor virá em breve? Virá fisicamente ou virá apenas em nossos corações, numa experiência mística arrebatadora e individual? Houve um papa, no passado, que disse: “Oh, Senhor, há tantos sinais de que Vossa vinda não está longe”. E nós já estamos em 2014, em pleno século XXI.
A idade, os anos vividos, a experiência e a prática, as cirurgias já enfrentadas, a força para a superação me fortalecem e me preparam para outros embates, aqueles que a vida tem reservado para cada um de nós.
Todos os dias, de joelhos, diante do quadro da Divina Misericórdia, a imagem do Senhor que Santa Faustina deu ao mundo, digo com fé a oração misericordiosa: “Jesus, eu confio em Vós”.