Os verdadeiros Romeu e Julieta
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Se Romeu e Julieta são o arquétipo do amor juvenil, do amor impossível e do amor condenado, Gordon e Nora são o arquétipo do amor real, do amor possível e do amor vivido.
Gordon e Nora são o arquétipo da verdadeira história de amor.
No dia que se formava no colegial, no estado americano de Iowa, Norma Stock disse sim ao pedido de casamento feito por Gordon Yeagers. Meses mais tarde, no dia 26 de maio de 1939 casavam-se prometendo viverem juntos até que a morte os separasse.
Setenta e dois anos de matrimônio depois a única coisa que realmente Norma e Gordon não sabiam como administrar eram os momentos de separação física um do outro.
Segundo seus filhos, detestavam, desorientavam-se quando longe um do outro tinham de ficar por alguns dias.
Ele era o tipo divertido, o centro das atenções nas festas. Ela, a que recebia de braços abertos todos que a sua casa chegavam. Nas palavras de uma das filhas, quanto mais ela esmerava-se por fazer a seus convidados, mais brilhava o sorriso em seu rosto.
Juntos viveram setenta e dois anos de companheirismo, de cumplicidade.
Setenta e dois anos celebrando vitórias, regorjizando-se com pequenas conquistas.
Setenta e dois anos também superando dificuldades, apaziguando conflitos aqui e acolá.
Setenta e dois anos removendo o platonismo do amor imaginário e vivendo, dia após dia, a realidade do amor real.
Mostrando-nos que sim, ele é possível.
Já na casa de seus noventa anos, Gordon costumava dizer: “Eu tenho de ficar por aqui, não posso ir até que ela se vá. Tenho de ficar, por ela.”
Em outubro do ano retrasado, em um cruzamento de avenidas de uma pequena cidade do estado do Iowa onde moravam, Gordon não pode desviar de um carro que vinha em sentido oposto e houve um severo acidente que levou ele e sua amada para a emergência do hospital local. Ela contava com 90 anos de idade e ele com 94.
As enfermeiras sabiam que não deviam separá-los e os colocaram no mesmo quarto da UTI.
Às 3:38 minutos da madrugada do dia 12 de outubro, de mãos dadas com sua esposa, Gordon Yeagers faleceu.
Porém, minutos depois, embora sua respiração houvesse cessado, sinais cardíacos continuavam sendo acusados em uma das máquina na cabeceira de sua cama.
Atônito, um dos filhos pergunta a enfermeira o que estava acontecendo e ela lhe responde que eram os sinais do coração de sua mãe que ecoavam por meio do corpo de Gordon, por de mãos dadas estarem.
Às 4:38 da manhã, exatamente uma hora depois de Gordon partir, Nora Yeagers faleceu partindo ao encontro daquele a quem jurara jamais se separar até que a morte o fizesse.
Aparentemente nem a morte foi capaz de fazê-lo.
Nem ela era obstáculo para o amor de vocês, não Nora?
Num mundo de relações tão fluídas, num mundo de laços que se rompem ao sabor de qualquer vento mais forte, num mundo onde casais, advogando necessitarem de mais independência, moram em casas separadas, num mundo assim vocês Norma e Gordon são o verdadeiro espírito da história de Romeu e Julieta.
Com todo o perdão do atrevimento, mas houvesse os conhecido, Shakespeare teria reescrito uma versão muito mais poética de sua obra.
Morrer por amor sem ter vivido sua história, é uma coisa. Muito bela sim, mas uma coisa.
Morrer, ainda amando, depois de se viver uma vida (de 72 anos) de amor, é completamente outra.
Que juntos, de onde vocês estiverem Norma e Gordon, de mãos dadas, enviem um pedacinho de sua sabedoria, de seu amor absoluto e incondicional a nós, pobres mortais, aprendizes de amantes.
Califórnia, 1 de julho de 2013.
* Thaís Ouzounian, colaboradora brasileira na Califórnia.
Willian Shakespeare mostrou amor entre duas pessoas em Romeu e Julieta, mas envenenou todos com ódio, ciúme, inveja, ambição, cobiça e toda sorte de maus sentimentos. Assim, desperta fortes emoções em quem lê a sua obra e, isso está acontecendo há 400 anos.
Mas agora, Thaís, a nossa escritora deste simpático artigo, também mostra o amor entre duas pessoas, mas ao contrário de quem lê Shakespeara, ela nos tráz um sentimento de seneridade inegualável. Espero que suas palavras se multipliquem e continuem acontecendo assim por muitos 400 anos.
Parabéns pelo artigo.
Agradeço suas educadas palavras. Oxalá minhas palavras se multipliquem em qualidade a honrar o privilégio de sua leitura.
Suas palavras fazem aflorar memórias de nossas histórias. Foram poucas linhas, mas minha imaginação navegou com o combustível de seus textos nas praias dos meus melhores tempos e, com melodias!
Qual é a mágica que usa quando escreve?
Cara Thaís, as palavras de seu texto me emocionaram em cada momento da história e parei no tempo para refletir:
o que será que acontece em nossas relações pessoais que se distanciam tanto de Nora e Gordon?
Espero viver uma vida de Norma e Gordon e morrer ainda amando…
Muito bom o texto parabéns curti muito.