Primavera das flores e dos pássaros

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download (3)Todas as estações possuem características e encantos especiais, porém a Primavera nos traz algo mais, ligado talvez a um simbolismo maior, sutil e indefinido, que conduz aos devaneios e abstrações. E para os mais vividos como eu, incorrigível diletante da vida, que procuro, incansável, descobrir em meio às pedras e aos espinhos aquela pequenina flor da beleza, aquela longínqua música da natureza – essência de Deus e de Sua portentosa criação – confesso que essa tendência mais e mais se acentua.

Vivemos tempos difíceis, áridos, violentos e decepcionantes, de egoísmos, fanatismos, combates e guerras sem fim, em que o homem é mesmo o lobo do próprio homem, ao ponto de fazer da criança, miniatura de Deus, da inocência e da Verdade, sua maior vítima.Aos poucos, vamos perdendo nossa autenticidade, a força e a esperança, e nos fragilizamos no medo e na insegurança. Mergulhamos no vazio. Hoje precisamos com urgência, além das armaduras da oração e da fé, dos suportes da arte e da beleza, essa beleza que pode salvar o mundo, segundo o grande escritor e pensador russo, Dostoievsky, que já no século 19 profetizou essa derrocada.

Voltemos ao tema e às amenidades. Voltemos aos recursos que possuímos, mais à mão. É preciso ter olhos de ver, ouvidos para escutar e sentidos despertos. Uma boa leitura, uma boa música ,um contacto maior com a natureza, um convívio mais íntimo com o próximo, sobretudo um olhar, aquele profundo olhar para dentro de nós mesmos que pode ajudar a ver melhor o mundo que nos cerca.

Hoje, 22, primeiro da Estação das Flores, o meu dia começou bem, depois de uma véspera noturna, embalada pela música de Beethoven ( 4ª e 5ª Sinfonias) executada pela Filarmônica de Berlim, sob a regência do grande maestro Paavos Javier, considerado um dos maiores do mundo. A TV Cultura está apresentando todos os sábados , às 20 h,45 o ciclo completo das sinfonias beethovianas, e o regente faz uma leitura extraordinária da música do genial compositor. Adormeci, tranqüila e suavemente, após este banho de beleza.

No domingo, durante a Missa de 10h,30 na Catedral, um outro Concerto, desta vez simples e natural, proporcionado por um casal de sabiás que resolveu morar no interior do templo. Maravilhoso! Entre vôos e pousos sobre os altos frontispícios dos claros vitrais, um gorjeio que parece ensaiado, de solos sincopados e afinados com o belo coro litúrgico. Segundo soube, os sabiás costumam sair para seus passeios alados, mas retornam para o ninho aconchegante da Igreja, e para o dever de encantar os fiéis nas Missas matutinas.

As aves do céu!…”Elas não semeiam nem ceifam, não tem despensa nem celeiro, mas Deus as alimenta”; também as flores e” os lírios que não trabalham nem tecem, mas nem Salomão com toda glória se vestiu como um deles”… Eis aí um tema de reflexão proporcionado por estas jóias incomparáveis da Criação, plenas de belezas e de harmonias, no dia especial de saudação à Primavera!

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