Quem não deve…

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Vi pela TV a sessão da nossa Câmara de Vereadores do dia 24 último. Fiel às orientações das bases e atento ao clamor popular, Paulo Camolesi votou contra o reajuste no salário dos vereadores, embora devesse votar a favor porque não se tratava de aumento, mas de reposição inflacionária já que abrira mão dos 66% dados pela legislatura anterior. Os demais votaram a favor reabrindo ferida que não seca.

Os três que usaram a tribuna para justificar o injustificável saíram-se mal. O da oposição tentou se explicar, mas se complicou. O segundo, tido como independente se mostrou descompensado. A menos que estivesse tudo combinado – porque lá também dá para fazer circo – e ele tenha assumido o ridículo papel de provocar quem estava quieto, minimizou o pequeno grupo de cidadãos organizados, que lá estava protestando em nome da omissa sociedade piracicabana Gritava feito moleque mimado. Essa sua tática de incorporar personagem destemperado compromete a qualidade de seu trabalho. Teve o disparate de mexer com o salário de um dos participantes; cidadão honesto merecedor de respeito. O da situação bateu boca com as pessoas do plenário desafiando algumas a acertar contas “lá fora”. O presidente suspendeu a sessão, mas logo voltou atrás porque alguém falou para que continuasse. Foi um patético espetáculo.

Na segunda votação da matéria, que aconteceu no dia 27, fui pessoalmente. Não consegui entrar. Estava “lotado” embora pela TV visse cadeiras vazias. Diziam lá fora que os lugares foram tomados por funcionários, comissionados e demais interessados; sendo essa uma estratégia comum adotada pela Casa em votações polêmicas. Aliás, o JP de 10.08.12 relata situação semelhante: “Funcionários da Câmara lotaram os 70 lugares do plenário em ‘solidariedade’ a vereadores e dificultaram manifestação contra o aumento dos salários”. Se for verdade, os que se submetem a esse papel se portam como fantoches do poder; gente sem amor próprio, que provavelmente nem dos filhos conseguirão respeito. Sei que em questão de minutos referendaram os aumentos. Adiaram discussões, retiraram projetos da pauta e, perto das 20h30min a sessão estava encerrada com a “ajuda de Deus”. Em questão de minutos o plenário estava às moscas.

Que tristeza isso tudo. O Brasil vai demorar muito para se tornar nação. Políticos jogam fora a preciosa chance de servir seu povo; empresários reclamam do governo, mas na sua vez, superfaturam obras públicas, sonegam, corrompem, oprimem seus semelhantes e destroem o meio ambiente; sindicalistas servem-se do cargo para entrar na política e acabam não fazendo bem uma coisa e nem outra. Em vez de incentivarem lideranças novas aferram-se a poder confirmando Marques de Maricá: “Os sábios recusam o poder; os loucos o cobiçam”. Não temos ainda pessoas de moral em número suficiente para fazer valer a verdade e a justiça.

Voltando à Câmara, no hall de entrada, assessores, funcionários e até o fotografo batiam boca com a população que protestava contra o cerceamento do seu direito à participação. Alguns dos funcionários partiram para o deboche como se aquela Casa fosse seu gueto, sua empresa ou seu feudo. Talvez não saibam que “Quando o jogo termina, o rei e o peão voltam para a mesma caixa”.

Se logo nas primeiras manifestações populares em 2012, a Câmara tivesse acolhido e dialogado com os manifestantes, teríamos caminhado muito na difícil estrada da democracia; mas preferiu radicalizar tratando-os como “pessoas sem moral, baderneiros e arruaceiros”. Começando com grades de proteção, câmeras de vigilância, vidro protetor, restrição ao uso da tribuna popular, ultimamente a mesa diretora –fechando-se mais ainda – promulgou um monte de normas para regular supostos “comportamentos inadequados” por parte da sociedade civil dentro do plenário.

Como é sábio o velho ditado: “Quem não deve não teme”.

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