Setembro

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E agosto terminou, abrindo para setembro seu véu de flores, infinita primavera de um ciclo bendito. Deitada numa rede imaginária, o sonho desaba sobre mim. Lá no alto, coisas acontecem sem que eu saiba. É um entra e sai de anjos que só vendo. Tem portaria e tudo. Carimbo, não. Protocolo, recibo, nota fiscal, essas formalidades burocráticas são coisas aqui da terra besta. Perdão.

Com o terço nas mãos, espero a beleza chegar. Há uma beleza proibida aos olhos humanos. E é pecado mortal olhar para ela. Está em toda parte onde pouso meu olhar perdido. Alguém escreveu assim: “O amor canta ao nosso redor”. Na verdade, busco exatamente isso, o incêndio fatal, a iluminação do ser. Hábitat do amor.

Estamos em setembro, é tempo de uma leve brisa aqui onde moro. Pelo amor de Deus, não me obrigue a contar mais do que isso. Jogo um beijo soprado daqui para as coisas criadas na face da Terra e digo o que não se diz. Há frases que ficam perfeitas quando não ditas, não pronunciadas. Não digo o que penso. É perigoso.

Existe uma exatidão em todas as coisas. É o quadrado perfeito de Deus, o menorá de sete velas, o número sete em sua magnitude, a regra que não tem exceção, a pródiga numeralidade do eterno.

Aprendi com meus pais a ser simples e a viver com pouco. “Mais que um prato de comida e um canto para morar, o que mais é preciso?”, perguntava minha mãe, cheia de sabedoria. Eu abaixava a cabeça e subia no pé de manga para pensar.

Quando setembro chega, chega um amor extremado pelas pessoas e por tudo que me cerca. Ah, se nossos amores soubessem quanto os amamos! O tempo passa depressa demais quando se descobre o amor. E então? O que está feito está feito. Prefiro a incerteza dos acasos e a dor de ver o fim de alguns encantos, do que perder a longa espera da beleza. Não desisto, monto guarda, vigio sem cessar. E rezo.

Como tenho rezado neste meu canto, meu lar sagrado. Vejo que tenho paz, que minha casa transborda de paz! Eu sei, eu tenho certeza disso. É a paz construída com a força da fé, da humildade e da oração diária. Ave, Maria, cheia de graça, vem em socorro de todos nós! Somos tão frágeis e pequeninos e este mundo está nos assustando cada vez mais, ó Mãe.

Desculpe, me perdi no caminho. Não lembro onde estava. Ah, sim, eu esperava pela beleza. Ela me pertence. Setembro aperta meu peito na floração da vida. Setembro canta dentro de mim esta posse da qual me julgo merecedora. “O amor canta ao nosso redor”.

Tomo posse de setembro e das alvíssaras. Abraço meus pertences, abraço aquilo que não posso comprar. Abraço o mar e sua profundeza abissal. Uma praia deserta, uma casinha com varanda e a paz que brota dos coqueirais. Abraço os amigos queridos, os da internet, os muitos que conheço só de foto, os narradores de e-mails inflamados. Os que me enviam relatos místicos. (Há mais coisas entre o céu…). Abraço os bissextos e os encantadoramente diários.

Um abraço, caro leitor!

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