Vida Encantada

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Depois de sair pelas ruas perguntando se a vida é dura, concluo que este contato ao vivo com seres humanos é algo muito benfazejo e encantador. Em geral, as pessoas são educadas, portam-se muito bem numa abordagem e respondem com boa vontade.

Falamos tão pouco com o próximo. Cultivamos uma fria distância, para não haver nenhum tipo de comprometimento. Quanto menos envolvimento, melhor. Como se diz: cada um na sua.

Cada um com seu “aipede”, seu celular inteligente, onde se pode fazer de tudo, tudo. Uma parte da população está de cabeça baixa, digitando o tempo todo, passando o dedo e fazendo a imagem andar. De crianças e jovens a senhores de cabelos brancos, fascinados com esta tecnologia.

A vida tem um brilho próprio, embora não notemos. Encantamo-nos em falar e nos comunicar por meio de uma máquina, quando se poderia conversar ao vivo, ouvindo a voz e olhando nos olhos de alguém.

Às vezes, penso que o mundo está passando por uma fase “sem noção”, sobretudo pela exposição excessiva das chamadas “celebridades”. Suas vidas, suas casas, seus amores, seus escândalos. Há um cantorzinho canadense que não se cansa de aprontar e dirigir embriagado. Parece sentir um enorme orgulho disso, uma vez que a notícia policial o expõe na mídia. Mais do que com suas canções.

images (12)Há quem reclame por coisas muito estranhas. Uma amiga me escreveu que uma mulher lamentou a morte da sua cobra no facebook. A vida dela estava acabada, pois morrera a cobra, sua grande amiga. Sem o réptil de estimação, a vida perdera o encanto. Minha mãe perguntaria assim: não é um pouco demais?

Contudo, em meio a sandices e bizarrices, busco o encantamento que a vida pode nos trazer, apesar deste achatamento global, desta mediocridade que parece imperar em toda parte, com coisas boçais passando por genialidades.

De uns anos para cá, houve uma espécie de reviravolta e, se o mundo anda de cabeça para baixo, temos de nos virar também para acompanhar a loucura geral? “Em terra de sapos, de cócoras com eles”, diz um ditado. Não estou lá muito de acordo com isso, ainda acredito nas cabeças pensantes, em gente com espírito crítico, com vontade de transformar e melhorar a nossa sociedade.

Ah, vida encantada! Por onde andam as pedrinhas de brilhantes, se essa rua fosse minha, para ver meu bem passar? Estamos a um passo de uma nova novidade. O top de linha será logo superado pelo objeto de desejo do momento, vem aí o “aifoneseis”. Virá o sete, o oito, o nove e o dez. Na latinha dos pastéis, tire um e deixe dez!

Ouço ainda as vozes sonoras dos meus primos, e eu junto, claro, pulando corda e cantando: “Batalhão, união / Quem não entrar é um bobão/ Abacaxi, xi, xi/ Quem não sair é um saci”.

Viu a moça do Grêmio, que chamou o goleiro “Aranha” de macaco? Está faltando respeito com o próximo. Quando é que haverá educação e respeito pelas pessoas, este gesto que torna a vida tão bela e encantada?

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