A arte de fofocar

FofocarUma das delícias da vida está se perdendo com os novos hábitos. Trata-se da fofoca, essa arte finíssima, um dos grandes prazeres da vida. É mentiroso quem diz que não gosta de fofoca, de fofocar, de fofocagem. É uma delícia, uma arte de grandes requintes.

Sendo arte, fofoca nada tem a ver com difamação ou com ofensa grave a um outro. Fofoca é fofoca, apenas isso. Trata-se de um jogo com requintes de esgrima. Em primeiro lugar tem-se que partir de uma premissa: “já que o outro irá falar mal de você, fale mal dele primeiro.” Conte inconfidências, diz-que-diz-ques, aquele “consta que…”, ou “ouvi falar, mas não tenho certeza.”

Em segundo lugar, toda fofoca tem um fundo de verdade. Pode não ser a verdade inteira, mas é esse o sabor dela, o de despertar a imaginação, o de permitir deduções e ilações. Por exemplo: vê-se um casal entrando num restaurante, aparentemente amigos. Alguém fala: “aqueles dois, não sei, não …” E, a partir daí, desencadeiam-se todos os delírios da imaginação.

A coisa é tão bonita que, por causa da fofoca, pode até ser bem capaz de que o que era simples fofocagem acabe se tornando realidade. Não há quem não tenha feito ou que não tenha sido vítima da fofoca, esse jogo de esgrimas, essa arte requintada onde se fala quase tudo sem afirmar nada.

Muito mais do que antes, até o próprio jornalismo está adotando a fofoca como fonte de informação e de notícias. Com a possibilidade de não mais se revelar a fonte, basta colocar-se na notícia: “segundo fonte idônea, estamos informados que …”. Mas, isso é agora, pois, antigamente, tinha que ter-se prova na mão, documentação, testemunha.

Lembro-me, inclusive, de um jovem repórter, estreando comigo, que começou uma notícia assim: “Consta que …”. Dei um berro,quase histérico: “Consta que é a pequepê!” (Só que falei com todas as letras.)

“Consta que” era, pois, linguagem da fofoca, como o “ouvi dizer”.

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