Carnaval, vacas estressadas, carneiros gays
Viver é perigoso, sim. Mas, também, divertido. Divertidíssimo. Corre-se o risco de enlouquecer, mas, sabendo-se manter o bom humor, ri-se muito. É de “rire comme um fou”, como dizem os franceses amigos do Fernando Henrique. Quase sempre, ri-se para não chorar. Mas vale a pena. Ora, é Carnaval, quase. Que se há de fazer senão rir, para não chorar?
Rio-me também – e muito – da atividade jornalística. Lembro-me das casas de antigamente, de muros baixos, de cadeiras nas calçadas, a vizinhança falando sem parar, trocando idéias, fofocando. Os vizinhos faziam jornalismo. Pois jornalista é muito semelhante às antigas comadres. E jornalismo, uma arte também da fofoca, essa esplêndida invenção humana. E jornalista é, também, como a moça do Chico Buarque, que fica à janela, vendo a banda passar. Vê, observa, analisa, opina, ora elogiando, ora discordando. Depende. E são mil os motivos metafísicos que levam o jornalista ir da crítica ácida ao elogio e vice-versa.. Tendo bom humor, ri-se do que vê. E de si mesmo.
No circo da vida, assunto não falta. O mundo é a grande calçada acolhendo as comadres do quarteirão. Dá, por exemplo, para discorrer sobre uma revelação dos cientistas de que as vacas estressadas produzem carne mais dura e ruim do que as vacas com temperamento mais calmo. Estas, as vacas calminhas, têm carne tenra, macia, doce. Ora, se acontece com vaca, tem que acontecer com gente, pensei eu. E, pensando, dei razão aos cientistas, pois me lembrei de amores humanos. E das notáveis semelhanças entre homem e boi, vaca e mulher, sem ofensa para os bichos nem para os humanos. Realmente, mulheres com temperamento calmo são sempre mais doces, têm carne mais macia. E as estressadas ficam com rugas mais depressa, a pele seca. Quanto aos homens, é preferível sejam eles, tal e qual o irmão boi, irascíveis. Homem muito calmo relaxa demais. E isso nem sempre é bom.
Por outro lado, um grupo de cientistas revelou a existência de carneiros gays. Não me lembro de onde eram, mas, certamente, não de Piracicaba. Carneiros e gays, mas de outro lugar. Pois bem. Segundo os cientistas, carneiros gays tinham uma atrapalhação qualquer em sei lá que raio de área cerebral que lhes alterava a preferência sexual. Ficavam – segundo os cientistas meio lelés da cuca. E trocavam a fêmea pelo macho. Deu-me um estalo e saí à procura de um amigo meu que, depois de velho, aos 70 anos, tornou-se gay, trocou a mulher por um homem, foram morar juntos. Não o encontrei. Mas meditei no destino de carneiro: já nasce manso, pode ter chifres e, conforme a confusão cerebral, torna-se gay… A vida é formidável.
Ora, é Carnaval e nem sei o que carneiros gays e vacas estressadas têm a ver com isso. Mas é que, novamente, começou a campanha pelo uso da camisinha. E, com ela, protestos dos que querem combater a AIDS apenas através da castidade, como Busch e o Papa dizem. Para eles e para cristãos fundamentalistas, sexo parece ser simples acidente. E, portanto, coisa dispensável…
É, pois, um mundo divertido. Lembro de uma observação de amigo internauta sobre o fato de o mundo estar gastando mais com implante de seios e com Viagra do que na pesquisa para enfrentar o mal de Alzheimer. Conclusão de internautas: “pode-se, pois, prever que, daqui a 30 anos, haverá uma multidão de pessoas idosas com seios enormes e com ereções monumentais, mas incapazes de se lembrar para o que isso serve…” E bom dia.
Esta crônica foi publicada n’A Província em 14/02/200